A médica Nadia Tamyres foi presa em flagrante no domingo (16), em Arapiraca, Agreste de Alagoas, suspeita de matar a tiros o ex-marido, o também médico Alan Carlos de Lima Cavalcante, em frente à Unidade Básica de Saúde (UBS) do povoado Capim. O caso ocorre em meio a uma disputa judicial pela guarda da filha do ex-casal e a um histórico de denúncias de suposto abuso sexual contra a criança.
Publicidade
Segundo informações do 3º Batalhão da Polícia Militar, o homicídio foi registrado por volta das 13h09. A vítima foi encontrada dentro do carro, com um disparo de arma de fogo no peito, na entrada da UBS do Sítio Capim, zona rural de Arapiraca. Equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionadas, mas apenas puderam constatar o óbito no local.
Uma testemunha, identificada como cunhada da vítima, relatou à PM que a autora dos disparos seria a ex-esposa de Alan Carlos. De acordo com esse depoimento, a mulher teria chegado em um Jeep Compass de cor marrom, armado, mandado o médico abaixar o vidro e dito que ele teria quebrado uma medida protetiva, afirmando: “Você quebrou a medida protetiva, vou te matar”. Ainda segundo a testemunha, o médico tentou fugir dando marcha à ré, momento em que os tiros foram efetuados. Após atingir a vítima, a suspeita teria apontado a arma para a testemunha e declarado que só não a mataria porque a munição havia acabado, fugindo em seguida.
Em entrevista concedida já detida, na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Maceió, Nadia afirmou que vivia sob ameaças e que acreditou estar diante de uma emboscada ao encontrar o ex-marido parado, dentro do carro, acompanhado da cunhada, e que entrou em pânico. Segundo seu relato, ela viu um “movimento brusco” e atirou com os olhos fechados, por medo de morrer.
"
“Ela relatou que agiu em legítima defesa porque ele descumpriu uma medida protetiva. Ele acabou se aproximando e isso acabou gerando uma ameaça, segundo ela. De forma que ela acabou efetuando disparos de arma de fogo, imaginando que também poderia estar ou até mesmo avançar o veículo contra ela”, contou o delegado Daniel Scaramello.
"
Nadia afirma que o conflito entre o ex-casal se intensificou há cerca de um ano e meio, quando ela registrou denúncia de estupro de vulnerável contra a filha, então com aproximadamente dois anos de idade. Em entrevistas anteriores a rádios locais, resgatadas após o homicídio, a médica declarou ter percebido mudanças de comportamento na criança, como medo na hora de tomar banho e recusa em trocar fraldas, além de relatos verbais da filha, o que a levou a procurar a polícia, o Ministério Público e serviços de proteção à infância.
Ainda de acordo com a versão de Nadia, a filha foi ouvida em escuta especializada, passou por acompanhamento psicológico e psiquiátrico e recebeu diagnósticos como transtorno de estresse pós-traumático e transtorno de ansiedade generalizada. A médica sustenta que laudos e relatórios foram anexados ao processo e que medidas protetivas chegaram a ser concedidas para ela e para a criança, restringindo o contato do pai com a filha.
Por outro lado, informações divulgadas pela Tribuna do Sertão indicam que Alan Carlos foi absolvido da acusação de estupro de vulnerável em 2024. A defesa do médico sustenta que um laudo do Instituto Médico Legal (IML) não constatou sinais de abuso sexual na criança. Após a absolvição, o médico ingressou com ação pedindo guarda compartilhada da filha e, segundo relatório da PM, havia obtido recentemente o direito de vê-la uma vez por semana, decisão que teria causado insatisfação à ex-companheira.
Nadia afirma que, mesmo após a decisão judicial favorável ao ex-marido, continuou recebendo ameaças e por isso mantinha porte e posse de arma desde 2020, por morar em área rural. Ela relata que possuía medida protetiva contra Alan Carlos, que estaria obrigado a manter distância mínima de 300 metros, e também contra um primo dele, descrito por ela como ex-presidiário. A médica diz que esse homem chegou a ser visto nas proximidades do posto de saúde onde ela trabalhava, episódio em que a Patrulha Maria da Penha foi acionada e o suspeito teria fugido após apresentar documento falso.
No dia do crime, segundo o depoimento da suspeita, ela se preparava para ir a um salão de beleza quando avistou o carro do ex-marido parado na esquina, sob uma árvore, acompanhado da cunhada. Ela declarou que, ao interpretar a situação como uma emboscada e temendo ser atacada, decidiu descer do veículo com a arma em mãos e disparar.
Após o homicídio, a Polícia Militar iniciou uma operação integrada para localizar a suspeita. O veículo Jeep Compass foi identificado na região de Atalaia, seguindo em direção a Maceió. Guarnições da 3ª Companhia de Polícia Militar Independente e da Rotam Comando acompanharam o trajeto até interceptar o carro na capital, em frente a uma loja de materiais de construção. Nadia foi presa sem oferecer resistência, e a arma que teria sido usada no crime foi apreendida.
Conduzida à DHPP, em Maceió, a médica teve a prisão em flagrante por homicídio registrada e passou a responder à investigação sob custódia. Em entrevista dentro da delegacia, ela declarou que se deslocava para Maceió para encontrar sua advogada e se apresentar à polícia, alegando medo de ser linchada pela população, quando foi abordada pelas equipes da Rotam.
O inquérito da Polícia Civil de Alagoas segue em andamento para esclarecer as circunstâncias do homicídio, enquanto a médica permanece presa na DHPP, em Maceió, e a filha do ex-casal segue sob os cuidados da avó materna por decisão judicial


