O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversaram na segunda-feira (6) por videoconferência, e o mandatário americano admitiu que o país “está sentindo falta” de produtos brasileiros afetados pela tarifa adicional, citando especificamente o café, um dos itens mais consumidos nos EUA e amplamente importado do Brasil. A fala foi relatada por veículos internacionais após o contato bilateral e ocorre em meio à escalada de preços da bebida no mercado americano e à retração das compras do produto brasileiro.
A tarifa total de 50% sobre importações do Brasil, anunciada por Washington, começou a incidir recentemente sobre um conjunto amplo de bens, com exceções específicas. Desde então, o café tornou-se um símbolo do impacto direto ao consumidor americano, já que a produção doméstica do país é insuficiente para atender à demanda.
Dados compilados pela imprensa internacional com base em estatísticas oficiais mostram que, em agosto, primeiro mês de vigência do tarifaço, o preço do café ao consumidor nos EUA teve a maior alta mensal em 14 anos, avançando 3,6%, cerca de nove vezes a inflação média do mês. Na comparação anual, a alta chega a 20,9%, ritmo acima do índice geral de preços. Paralelamente, as exportações brasileiras de café para os EUA despencaram em setembro: volume quase pela metade (-47%) e valor 31,5% menor, para US 113,8 milhões, contribuindo para inverter a balança bilateral do mês para um déficit de US 1,77 bilhão do lado brasileiro.
No contato de 30 minutos, o Palácio do Planalto informou que o tom foi amistoso e que ambos sinalizaram interesse em um encontro presencial “em breve”. Lula pediu a retirada da tarifa extra, além da revisão de medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras. Trump, por sua vez, disse nas redes sociais que a conversa foi “ótima”, com foco em economia e comércio, e determinou que as equipes sigam negociando. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, foi designado para dar sequência às tratativas com representantes do governo brasileiro.
O caso do café ilustra um efeito particular do tarifaço. Os EUA são o maior importador e consumidor global da bebida, e o Brasil responde por cerca de um terço do café consumido no mercado americano. Com oferta interna limitada e clima adverso em países produtores, a taxa adicional sobre o produto brasileiro tem sido citada por redes de TV americanas e analistas como um fator adicional de pressão nos preços, que devem seguir refletindo a nova estrutura de custos à medida que estoques são renovados.
Enquanto o diálogo político avança, o governo brasileiro acionou a Organização Mundial do Comércio com um pedido de consultas sobre as tarifas, medida que tem caráter formal de contestação. Nos bastidores, diplomatas e equipes econômicas trabalham para tentar recompor previsibilidade nas regras de comércio, diante de uma relação bilateral que, historicamente, alterna competição e complementariedades.