Imagine um dia intenso em Brasília. Nesta terça-feira, o ex-ministro Anderson Torres, que também foi secretário de Segurança do Distrito Federal no governo Bolsonaro, esteve frente a frente com a Primeira Turma do STF para ser interrogado. E as perguntas giraram em torno de temas quentes: as eleições de 2022 e os eventos de 8 de janeiro do ano seguinte. Torres foi direto, negando que houvesse qualquer prova técnica de fraude nas urnas no Ministério da Justiça. Sobre o 8/1, ele classificou o ocorrido como uma “falha grave no protocolo de segurança”.
O ministro Alexandre de Moraes quis saber mais sobre as alegações de fraude no sistema eleitoral. Como Torres se posicionou? Ele disse que o Ministério da Justiça simplesmente não tinha a estrutura técnica necessária para analisar as urnas eletrônicas. E aquela famosa live com o então presidente Jair Bolsonaro? Torres contou que apenas leu “destaques” preparados pela equipe dele, sem ter, ele próprio, uma base concreta para aquelas informações. Ele foi enfático: “Tecnicamente falando, não temos nada que aponte fraude nas urnas. Nunca chegou essa notícia até mim”. Faz sentido, não é?
Mas espera, ele não falou em “indícios de hackeamento” em uma reunião ministerial? Sim, falou. Mas Torres fez questão de esclarecer que, naquele momento, estava se referindo a sugestões para melhorar o sistema, e não a provas concretas de falhas. O ministro Moraes, com a pontuação afiada, devolveu: “Indício é um termo técnico para início de provas. O senhor tinha algum indício?”. E a resposta de Torres veio rápida: “Exatamente, eu, ministro, não tinha”.
Falando em dificuldades, Torres também mencionou a perda de um celular nos Estados Unidos, onde estava com a família quando foi preso. Ele negou que tenha se desfeito do aparelho de propósito para evitar que a PF acessasse os dados. Pelo contrário, segundo ele, o celular tinha “muita coisa que me ajudaria, as mensagens que mandei desesperado para o meu adjunto”. Ele disse que perder o aparelho o deixou “transtornado”. Que situação, hein?
O dia 8 de janeiro em pauta
Agora, mudando um pouco o foco, e o papel de Torres como secretário de Segurança do DF no dia dos ataques? Ele também se defendeu, negando que houve omissão de sua parte. Para ele, o que aconteceu foi resultado de uma “falha muito grave no cumprimento do protocolo”. Ele chegou a dizer que, pela forma como havia deixado a segurança do DF, era “impensável” que os ataques ocorressem.
Vendo as cenas, Torres falou que ficou “desesperado”. O que ele fez? Disse que ligou para autoridades locais, como o comandante da PM e o governador, buscando entender por que a falha aconteceu.
A polêmica “minuta do golpe”
Por fim, um dos pontos mais delicados: a tal “minuta do golpe”. Quando questionado sobre o documento encontrado pela Polícia Federal em sua casa, Torres disse que a descoberta foi uma “surpresa” para ele.
E qual a explicação para o documento estar lá? Torres garantiu que nunca tratou do assunto com ninguém. Segundo ele, o texto chegou ao seu gabinete no Ministério da Justiça, foi colocado em um envelope por sua assessoria e, de alguma forma, acabou indo parar em sua casa. Ele classificou isso como uma “fatalidade” e que o documento “era para ter sido destruída há muito tempo”. Torres ainda descreveu a minuta como “muito mal escrito, cheio de erros de português, de concordâncias”, e que “até o nome do tribunal que estava escrito lá estava escrito errado”. Para ele, o documento “não é da minha lavra”, e ele “não sabe quem fez, não sabe quem mandou fazer e nunca discutiu esse tipo de assunto”.