A recente imposição de sanções pelo governo de Donald Trump ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, não assegura a esperada recuperação política do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Esta é a percepção de interlocutores da direita e do centrão, que observam um cenário de isolamento do parlamentar.
Fontes próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indicam que o deputado intensificou sua retórica nas últimas semanas, dirigindo críticas até mesmo a figuras bolsonaristas, como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zema (Novo). Essa postura, segundo os aliados, resultou em seu afastamento dentro do próprio espectro político.
Impacto das Sanções e Tarifas
Apesar de celebrar as sanções financeiras contra Moraes, baseadas na Lei Magnitsky, Eduardo Bolsonaro sinalizou que sua estratégia não será alterada. Em declarações, ele afirmou que “temos várias batalhas adiante” e que a conquista “não é o fim de nada”, sugerindo que outras autoridades e familiares poderiam ser alvo de medidas similares.
“Temos várias batalhas adiante. Esta vitória não é o fim de nada.”
Contudo, a avaliação prevalente é que as posições adotadas pelo deputado se tornaram difíceis de serem justificadas para o eleitorado menos radical. A imposição de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, em 30 de novembro, é vista como um obstáculo significativo à sua reabilitação política. Esse decreto, assinado por Trump, excetua alguns itens como alimentos e minérios, mas afeta centenas de outros.
No cenário político, bolsonaristas divergem sobre a capacidade de reverter o impacto negativo do tarifaço. Uma parte considera a situação inviável, enquanto outra prefere aguardar os próximos desdobramentos das sanções americanas para uma análise mais precisa. Em suas redes sociais, Eduardo Bolsonaro declarou ter trabalhado para que “as medidas fossem ainda melhor direcionadas, atingindo o alvo correto e poupando ao máximo possível o povo brasileiro e o setor produtivo”.
Divisões Internas e Críticas Veladas
As críticas ao deputado são feitas com cautela entre os aliados, do centrão e de partidos próximos. Há um reconhecimento de que ele se empenha pela sanção a Moraes, considerado o principal opositor do bolsonarismo. Além disso, a indisposição com o filho do ex-presidente é evitada.
Apesar da reticência pública, reservadamente, políticos admitem observar um endurecimento na postura de Eduardo Bolsonaro. Um interlocutor do deputado alega que, após sua ida aos Estados Unidos e a instauração de um inquérito por Moraes, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), para investigar suas ações no exterior, a única via restante foi intensificar as críticas e defender as medidas tomadas pela administração Trump.
“Se você, empresário brasileiro, quiser investir aqui nos Estados Unidos, é só vir para cá que, em semanas, a gente coloca seu processo adiante.”
Um aliado do ex-presidente avalia que a conduta de Eduardo nos Estados Unidos está fragmentando o campo político e beneficiando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Essa fonte indica que Jair Bolsonaro possui uma visão mais pragmática e prefere evitar disputas publicizadas dessa forma.
Mal-estar e Futuro Político
Havia um desentendimento prévio entre pai e filho antes do anúncio do tarifaço. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) teria mediado a relação. Inicialmente, o ex-presidente era contra a permanência do filho no exterior, mas depois passou a elogiá-lo. Contudo, recentemente, Jair Bolsonaro utilizou o termo “imaturidade” ao se referir ao deputado, uma expressão que vem sendo retomada por críticos.
O parlamentar também direcionou ataques a governadores de direita e ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), além de tentar boicotar agendas de senadores em Washington, incluindo ex-membros do governo Bolsonaro, como a senadora Tereza Cristina (PP-MS).
Um grupo próximo a Eduardo Bolsonaro nega o radicalismo de suas ações, atribuindo as críticas à falta de apoio no Brasil e a divergências estratégicas comuns na política, classificando-as como “fogo amigo”. Uma pessoa ligada a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, considera “inadequadas” as declarações e publicações de Eduardo desde o anúncio da sobretaxa, em 9 de julho, citando o vídeo em que ele orienta empresários brasileiros a investirem nos EUA para evitar as sanções.
A análise é que um possível retorno de Eduardo Bolsonaro ao Brasil dependeria de um cenário improvável, como a concessão de anistia ao ex-presidente e o impeachment de Alexandre de Moraes. Antes da inelegibilidade de Bolsonaro, o deputado era considerado um nome central para representar o grupo político do pai em 2026.