Roraima passa a fazer parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) a partir desta quarta-feira, 11 de setembro de 2025. A conexão do Linhão Manaus–Boa Vista encerra décadas de dependência de térmicas a diesel e traz economia estimada de R$ 600 milhões por ano — recurso que até então saía da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) paga por todos os brasileiros. No balanço ambiental, a mudança evita mais de 1 milhão de toneladas de CO₂ por ano.
A energização foi acionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em Brasília. Com isso, os 650 mil moradores de Roraima passam a receber energia do sistema que já atende os demais 26 estados, com fornecimento mais estável e previsível.
Por que isso mexe na conta de luz
Desde 2019, quando Roraima ficou dependente só de térmicas a óleo diesel, o custo elevado da geração era rateado nacionalmente pela CCC. Para manter as usinas, cerca de 120 caminhões-tanque cruzavam diariamente a rota Manaus–Boa Vista. O resultado: uma conta superior a R$ 600 milhões/ano — que agora tende a cair com a entrada no SIN.
Da Venezuela às térmicas: a virada de 2019
Entre 2001 e 2019, até 75% da eletricidade consumida no estado vinha da Venezuela pelo Linhão de Guri. A crise do país vizinho e os apagões de março de 2019 cortaram o fornecimento. O estado passou a depender das quatro térmicas locais (Monte Cristo, Jardim Floresta, Distrito e Novo Paraíso). O preço explodiu — de algo próximo de R$ 900/MWh para cerca de R$ 1.700/MWh — e as interrupções ficaram mais frequentes.
Uma obra longa, travada por licenças e negociação indígena
Licitado em 2011, o Linhão enfrentou anos de entraves de licenciamento, principalmente no trecho de 144 km pela Terra Indígena Waimiri Atroari, entre Amazonas e Roraima. O avanço só veio após acordo com o povo Kinja (Waimiri Atroari), com compensações de R$ 90 milhões do governo federal e R$ 43 milhões do consórcio, além de medidas ambientais e culturais específicas.
O que foi construído
A linha, executada pela Transnorte Energia (TNE), soma 725 km, 1.390 torres e três subestações (Lechuga/AM, Equador/RR e Boa Vista/RR). O investimento total foi de R$ 3,3 bilhões, com R$ 2,5 bilhões do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (fundos FDA e FNO).
Impacto ambiental: diesel fora, CO₂ a menos
Com a conexão ao SIN, as térmicas serão desligadas gradualmente. Some-se a isso a eliminação da queima diária de cerca de 700 mil a 1,1 milhão de litros de diesel e a redução de mais de 1 milhão de toneladas de CO₂/ano. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, classifica o Linhão como “a maior obra de descarbonização da Amazônia”.
Capacidade para crescer (e exportar)
A infraestrutura tem capacidade de 1 gigawatt, quatro vezes a demanda atual do estado (~250 MW). Na prática, abre espaço para atrair indústrias, dar previsibilidade ao agronegócio e até importar até 750 MW da Venezuela, quando disponível, para redistribuir pelo próprio SIN. Para o presidente Lula, Roraima ganha posição estratégica para comércio com Guiana, Suriname, Trinidad e Tobago e Caribe.
Fim dos apagões frequentes
Os blecautes de 2024 deixaram claro o limite do modelo com térmicas. Integrado ao SIN, Roraima passa a compartilhar uma malha de mais de 175 mil km de linhas de transmissão, o que reduz o risco de interrupções e melhora a qualidade do serviço.
Emprego e economia local
Na obra, foram gerados até 3,6 mil empregos diretos e demanda por serviços, hospedagem e alimentação. Com a operação estável, a expectativa é atrair novos investimentos, reforçando setores em alta — como o agronegócio exportador, que movimentou US$ 221 milhões entre jan–out/2024.
O que vem agora
A entrada no SIN será escalonada: o ONS conduz testes e ajustes, enquanto as térmicas são retiradas aos poucos. Em paralelo, seguem projetos como o Norte Conectado, com R$ 1,3 bilhão para expandir a fibra óptica subfluvial na região.
Em uma linha: a conexão de Roraima ao SIN integra de vez o território nacional, alivia a conta coletiva, reduz emissões e cria condições reais de desenvolvimento sustentável no estado.