O rendimento médio dos trabalhadores brasileiros alcançou seu maior patamar histórico no quarto trimestre de 2024, chegando a R$ 3.270 mensais. Os dados foram divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) através do boletim “Emprego em Pauta”, revelando um crescimento de 7,5% no período entre 2022 e 2024.
Crescimento concentrado nos mais ricos
Apesar do avanço geral nos rendimentos, o estudo expõe uma profunda desigualdade na distribuição dos ganhos. Enquanto os trabalhadores com menores salários tiveram aumento médio de apenas R$ 76 mensais, os 10% com rendimentos mais altos obtiveram acréscimo de R$ 901 no mesmo período — um ganho 12 vezes superior.
A pesquisa revela que quase um terço dos trabalhadores ocupados no último trimestre de 2024 continuava recebendo no máximo um salário mínimo. Esta situação é agravada pelo fato de que os preços dos itens básicos de consumo subiram em ritmo mais acelerado que a média da inflação, afetando diretamente os mais pobres.
Contexto econômico e inflação
O período analisado foi marcado por pressões inflacionárias significativas, especialmente nos alimentos. Em 2024, os preços de alimentos e bebidas subiram 7,69%, muito acima da inflação geral de 4,83%. Os produtos que mais pesaram no orçamento das famílias foram carnes (alta de 20,84%), café moído (39,60%) e leite longa vida (18,83%).
Segundo especialistas, a alta dos alimentos foi impulsionada por fatores climáticos extremos, incluindo seca prolongada e enchentes no Rio Grande do Sul, além da valorização do dólar que estimulou as exportações.
Mercado de trabalho formal em expansão
Paralelamente ao crescimento dos rendimentos, o mercado de trabalho formal brasileiro registrou resultados positivos. Em 2024, foram gerados 1,69 milhão de empregos com carteira assinada, representando crescimento de 16,5% em relação ao ano anterior. O país encerrou o ano com 47,2 milhões de vínculos celetistas ativos.
Desigualdade de gênero e raça
Os dados oficiais também revelam a persistência de desigualdades estruturais no mercado de trabalho. Segundo o 3º Relatório de Transparência Salarial do governo federal, as mulheres recebem 20,9% a menos que os homens em funções equivalentes. Para as mulheres negras, a disparidade é ainda maior: elas ganham 47,5% do que recebem os homens não negros.
O DIEESE também aponta que os trabalhadores negros enfrentam rendimentos 40% inferiores aos demais trabalhadores, recebendo em média R$ 2.392 mensais contra R$ 4.008 dos não negros.
Políticas públicas e perspectivas
Para enfrentar essas disparidades, o DIEESE defende a implementação de políticas que incentivem a criação de empregos formais, a valorização do salário mínimo e o fortalecimento da negociação coletiva. Em 2025, o salário mínimo foi reajustado para R$ 1.518, representando aumento de 7,5% em relação ao ano anterior.
O estudo mostra que, em 2024, cerca de 85% das negociações coletivas resultaram em reajustes acima da inflação, com ganho médio de 1,49% nos salários negociados, o melhor resultado desde 2018.
Conclusão
O rendimento médio dos brasileiros atingiu R$ 3.270 no quarto trimestre de 2024, estabelecendo novo recorde histórico segundo dados do DIEESE. O crescimento de 7,5% entre 2022 e 2024 ocorreu em todas as faixas de renda, mas beneficiou desproporcionalmente os trabalhadores de maior remuneração. Aproximadamente 31% dos ocupados continuam recebendo até um salário mínimo, enquanto a inflação de alimentos pressiona especialmente as famílias de baixa renda.