Para muitos jovens LGBTQIA+, a internet vai além do lazer: ela funciona como uma rede de apoio, um lugar onde se sentem vistos e seguros. Dois estudos — um do The Trevor Project e outro da Hopelab Foundation — indicaram que a ausência de comunidades online seguras está associada a maiores taxas de depressão, ansiedade e ideação suicida entre jovens LGBTQIA+ no Brasil.
Apoio que salva
Em cidades como Paulo Afonso, na Bahia, essas redes digitais chegaram a ser a principal fonte de suporte. Não é só sentimento: os levantamentos trouxeram números concretos sobre como esses espaços funcionam no dia a dia.
- 74% dos jovens transgêneros relataram oferecer apoio a outros usuários de forma regular.
- 44% dos jovens LGBTQ+ disseram sentir‑se muito seguros no ambiente digital — contra apenas 9% que afirmaram o mesmo em interações presenciais.
Essas comunidades criaram redes de pertencimento, ofereceram suporte emocional e divulgaram informações práticas — elementos que, segundo os pesquisadores, são vitais especialmente para jovens transgêneros, que muitas vezes têm pouco controle sobre o nível de aceitação nos seus ambientes físicos. O que acontece quando esses espaços deixam de existir?
“Os espaços online podem oferecer uma fonte alternativa de apoio”, destacou a Hopelab Foundation.
Pressão política e riscos
Defensores e pesquisadores alertaram que propostas legislativas, como a Lei de Segurança Online para Crianças (KOSA), poderiam restringir o acesso a essas plataformas e aumentar o isolamento de jovens LGBTQ+. Após revisões, a KOSA transferiu a responsabilidade de fiscalização para a FTC, mas mudanças na liderança após a eleição de 2024 reacenderam receios sobre censura de conteúdo.
Especialistas advertiram que limitações a espaços digitais não seriam apenas um problema de acesso: poderiam agravar questões de saúde mental e elevar o risco de suicídio entre jovens já vulneráveis.
O debate segue aceso. Movimentações regulatórias e discussões públicas permanecem no centro das atenções, com pesquisadores, ativistas e formuladores de políticas acompanhando de perto possíveis desdobramentos que afetem o acesso a comunidades digitais no país.