A proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de elevar o 2 de Julho, data que marca a consolidação da independência do Brasil na Bahia, ao patamar de marco nacional, desencadeou discussões significativas em Portugal. A iniciativa, com forte apelo na região Nordeste, tem gerado análises divergentes sobre seu significado histórico e político.
Em Lisboa, o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, comparou a iniciativa brasileira à dinâmica de debates em torno do 25 de Abril em seu próprio país.
O jornalista e comentarista da CNN Portugal, Filipe Santos Costa, manifestou estranheza com a proposta.
“Data da consolidação da independência? Mas Portugal preparava-se para mandar tropas para retomar o Brasil?”
questionou Costa. Ele defendeu que a independência brasileira é uma das “histórias de independência mais bonitas” por ter se desenrolado, segundo sua ótica, como um movimento estratégico da monarquia lusa ao transferir a corte para o Brasil em meio às invasões napoleônicas.
Revisionismo Histórico em Debate
Costa ainda criticou o que interpretou como uma tentativa de revisionismo.
“Ele [Lula] não gosta que a independência tenha sido declarada por um português nascido em Queluz? Preferia que fosse um nativo ou um negro? A história é o que é. Quem incita fraturas em questões que não são fraturantes normalmente procura alguma coisa que não é boa”,
declarou, sugerindo um viés político nas declarações do presidente brasileiro.
Em contrapartida, Ana Paula Costa, presidente da Casa do Brasil de Lisboa, apresentou uma perspectiva distinta. Ela defendeu as palavras de Lula como um esforço para expandir a narrativa da independência brasileira.
“O processo de independência é longo e com vários atores. Pessoas negras, indígenas, nacionais, também lutaram contra a escravização e pela separação do Brasil da coroa portuguesa. Reforçar o 2 de Julho é dar visibilidade a essa luta popular, especialmente na Bahia, que foi central nesse processo”,
afirmou Ana Paula.
Ela acrescentou que a insatisfação percebida se encaixa em uma “perspectiva colonizadora” que ignora a complexidade histórica do Brasil.
“O que se coloca em causa é a história contada a partir da metrópole, pela ótica do vencedor”,
concluiu.
Críticas e Vieses Eleitorais
Outro jornalista da CNN Portugal, Uriã Fancelli, teceu críticas ao gesto de Lula, classificando-o como uma ação de cunho “eleitoralista”. Na visão de Fancelli, o presidente busca fortalecer sua base de eleitores no Nordeste, notadamente na Bahia, onde ainda desfruta de uma liderança nas pesquisas de intenção de voto.
Fancelli expressou preocupação com a tentativa de “rebaixar” o 7 de Setembro, data já estabelecida, considerando a ação “perigosa” por tentar “substituir a história por uma geopolítica emocional nova”.