A quarta fase da Operação Overclean mirou uma organização criminosa suspeita de fraudar licitações, desviar recursos públicos provenientes de emendas parlamentares, praticar corrupção e lavar dinheiro. A ação coordenada pela Polícia Federal, Controladoria-Geral da União (CGU) e Receita Federal cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em cinco cidades da Bahia: Salvador, Camaçari, Boquira, Ibipitanga e Paratinga.
As ordens judiciais foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com relatoria do ministro Kassio Nunes Marques. Durante as buscas, os agentes encontraram armas de fogo nas residências de dois prefeitos, que acabaram presos em flagrante por porte ilegal de arma de fogo, mas foram liberados no mesmo dia após pagamento de fiança.
Principais investigados da operação
A investigação atingiu figuras políticas proeminentes do estado. O deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) teve seu sigilo telefônico quebrado, sendo apontado como figura central no esquema de desvio de emendas parlamentares. Nascido em Itabuna em 29 de novembro de 1963, Mendonça é formado em administração de empresas pela Universidade Federal da Bahia e é filho do ex-deputado e ex-prefeito de Itabuna, Felix Mendonça.
Os prefeitos Humberto Raimundo Rodrigues de Oliveira (PT), de Ibipitanga, e Alan Machado França (PSB), de Boquira, foram afastados de seus cargos e presos em flagrante. Humberto Rodrigues, conhecido como “Beto”, tem 59 anos e nasceu no próprio município de Ibipitanga, onde exerce seu terceiro mandato não consecutivo como prefeito. Alan França, de 48 anos, nasceu em Salvador e foi eleito pela primeira vez em 2024, sendo servidor público municipal com ensino superior completo.
Assessor parlamentar identificado como operador do esquema
As investigações apontaram Marcelo Chaves Gomes, assessor parlamentar do deputado Félix Mendonça, como o principal operador financeiro do esquema. Gomes exerce a função de secretário parlamentar no gabinete do deputado desde dezembro de 2018 e foi afastado do cargo após ser alvo de mandados de busca e apreensão.
Descoberta milionária em gavetas
O momento mais impactante da operação ocorreu durante as buscas na residência do ex-prefeito Marcel José Carneiro de Carvalho, onde os agentes encontraram R$ 3,2 milhões em dinheiro vivo guardados em pelo menos duas gavetas do armário de roupas. A contabilização do dinheiro começou na manhã da sexta-feira e só foi finalizada no fim da tarde, revelando maços de notas de R$ 50, R$ 100 e R$ 200 amarrotados entre as roupas em gavetas com fechadura.
A descoberta causou particular surpresa quando comparada aos bens declarados por Marcel no período eleitoral. Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-prefeito declarou patrimônio de apenas R$ 256 mil, incluindo uma fazenda, uma caminhonete e um carro de som.
Como funcionava o esquema criminoso
Segundo as investigações da Polícia Federal, o núcleo criminoso atuava na liberação de emendas parlamentares destinadas aos municípios de Boquira, Ibipitanga e Paratinga entre 2021 e 2024, mediante pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos. O grupo também manipulava procedimentos licitatórios e contratos administrativos, comprometendo a legalidade das contratações públicas e a destinação correta dos recursos federais.
O esquema funcionava por meio de contratos superfaturados e direcionamento de licitações para empresas vinculadas ao grupo criminoso. As investigações revelaram que os recursos desviados eram originalmente destinados a políticas públicas essenciais como educação, saúde e infraestrutura dos municípios envolvidos.
Crimes investigados na operação
A operação apura múltiplos crimes graves contra a administração pública. Entre os delitos investigados estão integrar organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos administrativos e lavagem de dinheiro. Esses crimes carregam penas significativas e demonstram a gravidade e complexidade do esquema investigado.