Mota‑Engil Latam Portugal venceu o leilão do primeiro túnel submerso do Brasil, que ligará Santos (SP) a Guarujá (SP). O leilão foi realizado na sede da B3, em São Paulo, e o investimento estimado é de cerca de R$ 6,8 bilhões. A espanhola Acciona Concesiones também participou da disputa.
O projeto será feito em parceria entre governos estadual e federal, com participação da iniciativa privada — que ficará responsável pela construção, operação e manutenção. O governo federal apresentou o edital no início do ano, em anúncio feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o empreendimento foi apontado como a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Segundo o edital, o túnel terá extensão total de 1,5 km, com aproximadamente 870 metros submersos, e previsão de conclusão até 2030. A infraestrutura foi pensada para acomodar carros de passeio, transporte público, caminhões, bicicletas e pedestres — uma alternativa fixa à travessia que hoje é feita por embarcações.
Hoje, cerca de 78 mil pessoas fazem a travessia diária entre as margens usando pequenas embarcações e balsas. Com o túnel, espera‑se reduzir o tempo e dar mais previsibilidade a quem cruza a baía todos os dias.
Por que um túnel?
Em vez de uma ponte, optou‑se por um túnel submerso em blocos pré‑moldados de concreto. A escolha se deve ao tipo de solo local — argilas moles e sedimentos fluviais que dificultam escavações profundas — e também a restrições operacionais: a proximidade da Base Aérea de Santos e o intenso tráfego de navios no canal do porto tornariam uma ponte pouco viável.
Como será construído
A técnica prevista é a do túnel imerso, em que módulos de concreto são:
- construídos em terra e testados;
- transportados por flotação até o local;
- afundados de forma controlada e assentados sobre um leito preparado;
- protegidos por camadas de areia e cobertura de pedras para resistir a correntes e impactos.
Na prática, o processo envolve rebocadores e sistemas hidráulicos para nivelamento e encaixe dos módulos. A concessionária vencedora será responsável por seguir todas essas etapas, e também por operar e manter a estrutura após a entrega.
“É uma grande honra. Temos a certeza que iremos cumprir com nossas obrigações e esperamos iniciar a obra o mais rápido possível”, disse Manuel António da Fonseca Vasconcelos da Mota, vice‑presidente da Engil‑Mota.
Escala e repercussão
Para gestores e observadores de infraestrutura em outros estados, como a Bahia, o projeto virou referência sobre a escala de investimento em parcerias público‑privadas e sobre modelos de governança aplicados a grandes obras logísticas e urbanas.
A vencedora indicou intenção de começar os trabalhos o quanto antes, respeitando o cronograma do edital, com conclusão prevista para 2030. O projeto também retoma um debate centenário: o primeiro plano para ligar as duas cidades foi apresentado em janeiro de 1927 pelo engenheiro Enéas Marini, e só agora voltou a ganhar impulso.