Ministério da Saúde divulgou, nesta terça-feira (23), uma nota afirmando que a ligação entre o uso de paracetamol durante a gestação e o autismo é infundada. O texto aponta preocupação com o impacto dessa declaração na saúde pública e no comportamento das famílias atendidas pelo SUS, inclusive em municípios baianos como Salvador e Paulo Afonso.
O que diz a nota
O ministério alerta que um anúncio desse tipo pode causar pânico e levar mães a recusarem tratamento para febre e dor — situações que, se não tratadas, também podem fazer mal à gestante e ao feto.
“O anúncio de que autismo é causado pelo uso de paracetamol na gestação pode causar pânico e prejuízo para a saúde de mães e filhos, inclusive, com a recusa de tratamento em casos de febre e dor, além do desrespeito às pessoas que vivem com Transtorno do Espectro Autista e suas famílias.”
A nota reforça que o paracetamol foi amplamente estudado e que há evidências robustas sobre sua segurança e eficácia quando usado conforme indicação. O comunicado também lembra que o SUS oferece acolhimento e uma linha de cuidado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com foco no diagnóstico e na intervenção precoce, alinhados às evidências científicas.
“O Brasil busca reverter os prejuízos causados pelo negacionismo… O combate à desinformação é uma batalha cultural e política e um pilar fundamental na construção de um novo SUS capaz de responder aos desafios da atualidade.”
Reações internacionais
Entidades médicas do exterior também se posicionaram no mesmo dia. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) classificou as declarações como irresponsáveis e sem respaldo em evidências científicas confiáveis.
“O anúncio não é respaldado por evidências científicas e simplifica, perigosamente, as muitas e complexas causas dos problemas neurológicos em crianças. É altamente preocupante que nossas agências federais de saúde estejam dispostas a fazer um anúncio que afetará a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas sem o respaldo de dados confiáveis.” — Steven J. Fleischman, presidente da ACOG.
A ACOG lembrou que o paracetamol é uma das poucas opções seguras para gestantes no tratamento de dor e febre e que deixar essas condições sem tratamento pode ser mais perigoso do que quaisquer riscos teóricos do medicamento.
“As condições que as pessoas usam para tratar com paracetamol durante a gravidez são muito mais perigosas do que quaisquer riscos teóricos e podem gerar morbidade grave e mortalidade para a gestante e o feto.”
No Reino Unido, a Sociedade Nacional do Autismo chamou a declaração de alarmista.
“Isso é perigoso, é anticientífico e irresponsável… Essa pseudociência perigosa está colocando mulheres grávidas e crianças em risco e desvalorizando pessoas autistas.” — Mel Merritt, Chefe de Políticas e Campanhas.
Diagnóstico e cuidado no SUS
O ministério também recordou números e orientações nacionais: estima-se que cerca de 1% da população brasileira vive com TEA, e que 71% dessas pessoas apresenta outras deficiências. Para ampliar o diagnóstico precoce, a recomendação é que profissionais da atenção primária façam triagem em todas as crianças entre 16 e 30 meses.
O rastreamento usa o questionário M-Chat, disponível na Caderneta Digital da Criança e no prontuário eletrônico E-SUS. O SUS também oferece o Projeto Terapêutico Singular (PTS), que garante um plano de cuidado individual, construído entre equipes multiprofissionais e famílias.
Conclusão
A nota não anunciou abertura de investigações ou medidas administrativas novas relacionadas às declarações internacionais; o foco foi reforçar orientações técnicas e as ações do SUS para acompanhar e intervir quando houver sinais de TEA. Em tempos de informação confusa, a recomendação é seguir as evidências científicas e consultar profissionais de saúde antes de tomar decisões sobre tratamentos na gestação.