O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne nesta quarta-feira (29) com ministros no Palácio da Alvorada para tratar da crise de segurança no Rio de Janeiro, um dia após a megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou ao menos 64 mortos e 81 presos, segundo dados oficiais. Pela manhã, moradores levaram dezenas de corpos à Praça São Lucas, na Penha, o que pode elevar o total de vítimas, ainda sob apuração das autoridades.
Participam do encontro o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Rui Costa (Casa Civil), Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), José Múcio (Defesa), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Sidônio Palmeira (Comunicação Social), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania), além do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e do presidente da Embratur, Marcelo Freixo. A reunião ocorre após uma rodada emergencial na véspera, em Brasília, e do retorno de Lula ao país na noite de terça-feira.
Batizada de Operação Contenção, a ação contou com cerca de 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar para cumprir quase 100 mandados contra integrantes do Comando Vermelho. Houve intensos confrontos em área de mata conhecida como Vacaria, bloqueios com ônibus e veículos em vias expressas e impacto sobre o funcionamento de escolas, universidades e transportes, em um cenário descrito por autoridades municipais como de “guerra” em vários pontos da cidade.
Ao longo da manhã desta quarta, moradores do Complexo da Penha transportaram ao menos 70 corpos para a praça São Lucas, em um esforço de reconhecimento por parentes. A Polícia Militar informou que as circunstâncias das mortes serão periciadas e que a inclusão desses óbitos no balanço oficial ainda depende de investigação. Relatos apontam que a maioria dos corpos é de homens, com ferimentos por arma de fogo, e que muitos foram retirados de área de mata de difícil acesso.
A operação, a mais letal da história do Rio, gerou tensão entre as esferas estadual e federal. O governador Cláudio Castro afirmou que o estado atuou sozinho e criticou o governo federal e a decisão do STF na ADPF das Favelas. Em resposta, o Ministério da Justiça e Segurança Pública disse que não recebeu pedido de apoio para a operação de terça-feira e reiterou que tem atendido solicitações do governo fluminense quando formalizadas. O ministro Ricardo Lewandowski declarou que a União se mantém à disposição para colaborar no enfrentamento ao crime organizado.
Entidades de direitos humanos e a Defensoria Pública da União criticaram a letalidade da ação e pediram apuração rigorosa, com respeito aos parâmetros fixados pelo STF para operações em áreas vulneráveis. O governo federal avalia medidas de resposta em segurança pública e assistência às populações afetadas, enquanto o governo do Rio aponta novas fases da Operação Contenção.
No fim da manhã, a equipe presidencial discutia próximos passos, incluindo diálogo com o governo estadual, acompanhamento das perícias, eventual reforço de cooperação federativa e monitoramento dos impactos sobre serviços essenciais. As investigações seguem em curso para identificar os mortos e esclarecer as circunstâncias das mortes registradas na Penha e no Alemão.

