O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou neste domingo (3) a possibilidade de concorrer novamente à Presidência da República. Contudo, o chefe do Executivo condicionou essa intenção à sua plena condição de saúde, evitando repetir o cenário vivido pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante seu último pleito.
“Para ser candidato tenho que ser muito honesto comigo. Preciso estar 100% de saúde. Para eu me candidatar e acontecer o que aconteceu com Biden, jamais. Quando falo que tenho 80, energia de 30, vocês podem acreditar”, afirmou Lula, complementando que, “Se eu for candidato, vou ser candidato para ganhar.”
As declarações foram proferidas em Brasília, durante a cerimônia de posse de Edinho Silva como presidente do Partido dos Trabalhadores e dos demais integrantes eleitos para o diretório da sigla. O evento marcou o encerramento do Encontro Nacional do PT, que teve início na última sexta-feira, dia 1º.
Debates e Teses Partidárias
A ex-presidente do PT e atual ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, esteve presente na solenidade, recebendo forte apoio da plateia. Outros ministros filiados ao PT também compareceram, incluindo Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Anielle Franco (Igualdade Racial), Luiz Marinho (Trabalho) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral).
Em seu discurso, Gleisi Hoffmann criticou a interferência dos Estados Unidos no Brasil, atribuindo-a à família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ela defendeu a taxação de grandes fortunas e expressou oposição à guerra na Faixa de Gaza. A ministra também se manifestou contra a anistia e elogiou publicamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pela condução de processos relacionados aos eventos de 8 de janeiro.
“Temos uma luta maior também, ao lado de lutar contra as injustiças no Brasil, temos que lutar contra a intervenção estrangeira. Acho que ninguém nunca achou que fôssemos viver uma situação dessa no Brasil, desse tipo de interferência na nossa soberania e causada por um ex-presidente e sua família que quer anistia, que articulam contra o Brasil, que se fantasiam com a bandeira brasileira, que falam dos valores do Brasil e entregam o nosso país ao estrangeiro”, declarou Hoffmann. Ela prosseguiu: “Sem anistia para uma gente traidora, que nos vende, que tentou dar um golpe e agora dá um golpe continuado. Nós não vamos negociar nossa soberania, democracia e autonomia dos nossos Poderes. E aqui quero fazer um cumprimento especial ao ministro Alexandre de Moraes, que tem sido fundamental na condução desse processo.”
Paralelamente ao evento petista, manifestações de apoio a Bolsonaro ocorreram em diversas partes do país, incluindo Brasília.
Diretrizes e Pautas
Na véspera do evento, o PT aprovou sua tese oficial, o documento que norteará as ações do partido nos próximos anos. A tese, apresentada pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), que tem o apoio de Lula e obteve a maioria dos votos, foi aprovada com a inclusão de uma defesa para o veto ao projeto de lei que altera as normas de licenciamento ambiental. Emendas propostas por setores mais à esquerda, que criticavam o novo arcabouço fiscal e a frente ampla governista no Congresso, foram rejeitadas.
O documento da CNB, composto por 107 itens, estabelece metas e diretrizes para o partido, como o repúdio ao que chamou de genocídio na Palestina, a atenção às tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil e ao mundo, o combate à extrema direita, a proposta de isenção de Imposto de Renda para rendas mensais de até R$ 5.000 e a busca pela igualdade salarial.
Embora a redução da carga horária semanal para a escala 6 por 1 seja uma das principais pautas defendidas pelo PT, o tema recebeu apenas uma breve menção no texto aprovado. A tese aponta que o governo busca aprimorar sua comunicação institucional, mas reconhece a necessidade de um engajamento mais amplo no debate público, convencendo a população sobre a relevância das ações de Lula, além de apenas divulgá-las. O documento ainda sugere que o governo e seus aliados adotem uma comunicação “mais proativa e direta” com a sociedade, explorando “o carisma e a palavra” do presidente e suas viagens pelo país, além de aproveitar o prestígio dos ministros.