A quarta-feira trouxe de Brasília uma notícia que pode mudar o destino de milhares de empresários na Bahia. O presidente Lula anunciou um pacote robusto de R$ 30 bilhões para socorrer empresas brasileiras que perderam competitividade depois que os Estados Unidos impuseram tarifas de 50% sobre determinados produtos.
Para a Bahia, onde cerca de 210 mil trabalhadores atuam em setores que exportam para o mercado americano, essa medida chega como uma verdadeira tábua de salvação.
Empresas baianas correm contra o relógio
O cenário mudou drasticamente desde o decreto de Donald Trump. Segundo a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), só no setor industrial baiano, 10 mil empregos diretos correm risco imediato.
Carlos Henrique Passos, presidente da FIEB, lembra que, para algumas fábricas, o mercado americano representa até 30% da produção. Perder esse destino, diz ele, pode significar o fechamento das portas.
O impacto na economia estadual também preocupa: projeções do Observatório da Indústria apontam para uma queda de 0,27% no PIB da Bahia — cerca de R$ 1,3 bilhão, o que equivale a 1% de toda a produção econômica do estado.
Setores estratégicos no olho do furacão
Os danos se concentram nos pilares da economia baiana:
- Celulose: perdas potenciais de US$ 191 milhões
- Químico e petroquímico: US$ 177 milhões
- Indústria de pneus: US$ 89,3 milhões
O cacau, orgulho do sul da Bahia, também sente o baque. Entre janeiro e junho de 2025, o estado exportou mais de US$ 45 milhões em derivados (manteiga, gordura e óleo) para os EUA. Agora, empresas como Cargill, Joanes e Barry Callebaut terão de repensar suas rotas comerciais.
Na fruticultura irrigada do Vale do São Francisco, a manga — estrela das exportações — pode perder espaço no mercado americano, afetando toda a cadeia produtiva.
Como acessar o pacote de socorro
Batizado de “Brasil Soberano”, o plano oferece várias frentes de apoio. A principal é uma linha de crédito de R$ 30 bilhões com juros reduzidos, disponível pelo Banco do Brasil e pelo BNDES. A condição? Manter os níveis de emprego.
O governo também vai ampliar o Reintegra:
- Micro e pequenas empresas: devolução de até 6% dos tributos pagos na produção de bens exportados.
- Médias e grandes: até 3,1%.
O acesso é feito pelo sistema da Receita Federal (PER/DCOMP), com opção de receber o dinheiro em conta ou usar o crédito para quitar impostos.
Medidas emergenciais para dar fôlego
Além do crédito, o pacote prevê:
- Adiar por dois meses o pagamento de tributos federais para empresas mais afetadas.
- Prorrogar por um ano o prazo do regime de drawback, evitando multas e permitindo redirecionar produtos para outros mercados.
- Ampliar compras públicas de alimentos, priorizando perecíveis como frutas e mel — uma chance de produtores baianos evitarem perdas totais.
Bahia na linha de frente das negociações
O governador Jerônimo Rodrigues vem liderando uma articulação política intensa. Com apoio do secretário da Casa Civil, Afonso Florence, apresentou propostas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para retirar produtos baianos da lista de sobretaxação.
Florence garante que há “um canal permanente de monitoramento” com Brasília e que os setores mais estratégicos — petroquímica, pneus, celulose e cacau — estão sendo ouvidos.
O Consórcio Nordeste também entrou no jogo, unindo governadores para fortalecer a posição da região nas negociações.
Diversificação de mercados: o passo além da crise
As medidas emergenciais dão o alívio imediato, mas o futuro exige novas estratégias. O governo federal já prepara uma missão empresarial de 500 empresários para a Índia em janeiro de 2026 e fechou 400 acordos para vender carne bovina e miúdos às Filipinas.
Para a manga do Vale do São Francisco, o caminho pode ser a Europa e a Ásia — com ajustes logísticos e padrões de qualidade. O cacau baiano, por sua vez, tem portas abertas para mercados exigentes e valorizadores da qualidade.
Corrida contra o tempo
A Medida Provisória Brasil Soberano vale por 120 dias e precisa passar pelo Congresso para se tornar permanente. O presidente da Câmara e o do Senado já indicaram que vão priorizar a pauta.
Para aproveitar a oportunidade, os empresários baianos precisam agir rápido:
- Buscar informações com o Banco do Brasil e o BNDES.
- Regularizar pendências fiscais para agilizar o acesso ao Reintegra.
- Desenvolver planos de diversificação de mercados.
Com a combinação de pacote federal, mobilização estadual e união regional, a Bahia pode não só sobreviver ao “tarifaço” de Trump, mas sair dessa crise ainda mais forte e preparada para o futuro.