Chorrochó (BA) – A Justiça da Bahia proibiu o Bradesco de encerrar as atividades do único posto de atendimento bancário em funcionamento no município de Chorrochó, no Vale do São Francisco. A decisão foi publicada pelo desembargador José Cícero Landim Neto, do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), e impede que os cerca de 10,5 mil moradores da cidade fiquem sem acesso a serviços financeiros presenciais.
De acordo com a liminar, o banco deverá manter o atendimento integral até implantar uma estrutura equivalente, como uma unidade avançada, que garanta suporte à comunidade. Em caso de descumprimento, foi estabelecida multa diária no valor de R$ 100 mil.
O posto de Chorrochó estava previsto para fechar as portas em 22 de setembro e transferir as contas para uma agência em Paulo Afonso, distante 170 quilômetros. A decisão judicial também impõe que a instituição mantenha caixas eletrônicos, atendimento assistido para operações digitais e informe previamente à população sobre qualquer alteração.
Dependência local
O ponto de atendimento é considerado essencial pela prefeitura, que mantém contrato com o banco para a gestão da folha salarial de servidores municipais. Além disso, aposentados, beneficiários de programas sociais e produtores rurais utilizam o espaço para pagamentos, saques e consultas. Em uma cidade em que 25% da população tem mais de 50 anos e enfrenta limitações no acesso às plataformas digitais, a ausência de uma agência agravaria desigualdades.
O advogado Cícero Dias, assessor jurídico do município, afirmou que a medida judicial representa uma garantia mínima de dignidade: “O Bradesco não pode simplesmente encerrar suas atividades e deixar milhares de pessoas sem alternativas. Essa decisão garante que haja, ao menos, uma transição adequada.”
Fechamentos em série na Bahia
Desde 2023, o Bradesco intensificou o fechamento de agências no interior baiano como parte de seu processo de reestruturação, que prioriza canais digitais. Nos últimos dois anos, ao menos 45 unidades foram encerradas no estado, provocando reflexos diretos na oferta de serviços e na geração de empregos — somente entre janeiro e julho de 2025, 176 bancários foram demitidos na Bahia.
Outras cidades também recorreram à Justiça. Em Ubatã, no sul do estado, o TJ-BA determinou a manutenção provisória do atendimento por 180 dias. Já em Pedro Alexandre, de 13,9 mil habitantes, a prefeitura anunciou que também ingressará com uma ação para tentar impedir o fechamento da única agência da cidade, previsto ainda para setembro.
Essa não é uma realidade exclusiva da Bahia: no Maranhão, uma decisão em abril suspendeu o processo de encerramento de unidades do Bradesco em 16 municípios após atuação do Procon local.
Posição do Bradesco
Em nota, o banco afirmou que 98% das operações de seus clientes já são realizadas por meios digitais e que o fechamento de agências faz parte de uma estratégia nacional de otimização dos negócios. A empresa disse que serviços continuarão disponíveis por meio do aplicativo, do internet banking e da rede de correspondentes “Bradesco Expresso”.
Situação atual
A decisão judicial, por enquanto, é liminar e ainda pode ser contestada pelo Bradesco. No entanto, até que haja um julgamento definitivo, o posto de atendimento seguirá funcionando em Chorrochó, garantindo que os moradores não fiquem desassistidos.