O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu explicações ao comando da Caixa Econômica Federal após o anúncio de que o banco público pretende lançar, no fim de novembro, sua própria plataforma de apostas esportivas. Interlocutores do Planalto afirmam que o chefe do Executivo se irritou com a ideia e pode determinar o cancelamento do projeto após reunião com o presidente da instituição, Carlos Vieira, quando retornar da Ásia. A iniciativa, apelidada de “bet da Caixa”, foi apresentada em entrevista do executivo ao site Money Times, com previsão de arrecadação entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões em 2026, segundo reportou o g1. A autorização técnica para a operação foi dada pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), do Ministério da Fazenda, em parecer de caráter formal, sem juízo político sobre a conveniência da medida.
A possibilidade de entrada da Caixa no segmento de apostas esportivas provocou reações imediatas no governo, que vem defendendo a ampliação da taxação sobre o setor e preparando projetos de lei para endurecer regras. Auxiliares de Lula avaliam que a criação de uma bet por um banco público contraria o discurso recente do Executivo e pode fragilizar a pauta de justiça tributária no Congresso, onde o Planalto pretende avançar com a taxação de “BBBs” — bilionários, bancos e bets —, conforme relatou a colunista Carla Araújo, do UOL.
No campo político, as críticas partiram tanto da oposição quanto de setores da sociedade civil. No Senado, Damares Alves (Republicanos-DF) classificou a ideia como “retrocesso moral e social” e afirmou que um banco público não deve incentivar uma atividade associada a riscos de endividamento e ludopatia. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também divulgou nota de repúdio, questionando a compatibilidade da operação com a missão institucional da Caixa — guardiã do FGTS e gestora de programas sociais — e cobrando maior proteção ao consumidor. Nas redes, perfis ligados à educação financeira, como o de Nath Finanças, somaram-se às manifestações de reprovação, apontando contradição entre campanhas contra os danos das apostas e a decisão de um banco estatal de lançar sua própria plataforma.
A justificativa apresentada pelo comando da Caixa, segundo a imprensa especializada, é reverter a perda de receitas com loterias tradicionais e disputar espaço com operadoras privadas, em um mercado regulado e de forte expansão. Relatos publicados por veículos de economia indicam que o projeto prevê apostas de quota fixa, integração entre canais digitais e a rede de lotéricas, verificação de identidade com biometria e restrições para beneficiários de programas sociais, além de meios de pagamento com maior rastreabilidade. A proposta, no entanto, não apaziguou o debate sobre coerência institucional e sobre o papel do Estado em uma atividade que o próprio governo pretende tributar mais fortemente.
Os próximos passos devem incluir a conversa de Lula com a direção da Caixa e a possível reavaliação do cronograma de lançamento. Em paralelo, a equipe econômica prepara o envio de projetos de lei para ampliar a taxação de casas de apostas, tema que tende a mobilizar bancadas com posições divergentes no Congresso. Até a definição presidencial, o futuro da “bet da Caixa” permanece em aberto, sob pressão política e social crescente.

