Nos últimos meses, a agência de imigração dos Estados Unidos (ICE) ampliou o uso de tecnologias digitais e de inteligência artificial para localizar imigrantes sem documentação e monitorar ativistas, segundo reportagem do Washington Post. Em setembro, a agência fechou contratos que totalizaram US$ 1,4 bilhão, o maior montante mensal reportado em pelo menos 18 anos.
O ICE disse que essas ferramentas ajudam em investigações de atividades criminosas e na segurança pública. Mas a escala das compras — que inclui softwares de reconhecimento biométrico e programas para acessar dados de celulares — levantou dúvidas sobre privacidade e limites do monitoramento.
Quais tecnologias foram contratadas
- Clearview AI — software de reconhecimento facial que identifica pessoas a partir de fotos e vídeos;
- BI2 Technologies — aplicativo de escaneamento de íris para checagem de identidade em campo;
- Paragon Solutions (Graphite) — ferramenta para acessar mensagens, fotos e dados de localização em smartphones;
- Palantir (ImmigrationOS) — plataforma de rastreamento usada para monitorar imigrantes e potenciais autodeportações;
- Skydio X10D — drones empregados para filmar manifestações e operações de campo;
- Penlink (Tangles e Weblocs) — sistemas de análise que combinam redes sociais, trechos da dark web e rastreamento de celulares;
- um centro de monitoramento de redes sociais para identificar e localizar ativistas.
O reforço tecnológico ocorreu no contexto em que o então presidente Donald Trump, no final de setembro, declarou o movimento ‘Antifa’ como organização terrorista doméstica após confrontos em Dallas e cobrou investigações das agências federais.
“Temos alguns dos melhores agentes especiais e investigadores criminais. Vamos rastrear o dinheiro. Vamos rastrear os líderes”, disse Todd M. Lyons, diretor interino do ICE, em entrevista ao podcast de Glenn Beck.
Críticos e legisladores expressaram preocupação. O senador Ron Wyden, do Oregon, alertou que o uso de spyware e drones pode violar direitos civis e ser usado para perseguir adversários políticos. Do lado da Casa Branca, a porta‑voz Abigail Jackson afirmou que certas organizações “têm alimentado tumultos violentos, organizado ataques contra policiais, coordenado […] campanhas ilegais de doxxing, pontos de entrega de armas e materiais para protestos e muito mais”.
Um porta‑voz do ICE reiterou que a agência “emprega várias tecnologias para investigar atividades criminosas” e que essas ferramentas são essenciais para segurança nacional e investigações criminais. A reportagem citada não mencionou decisões judiciais ou audiências futuras relacionadas aos novos contratos.
Até onde vai esse equilíbrio entre segurança e privacidade? A expansão do uso de IA e ferramentas de vigilância pelo ICE intensifica um debate que envolve tecnologia, direitos civis e transparência das autoridades — questões que seguem em aberto.