O Governo da Bahia destinou R$ 18,44 milhões para a contratação de atrações musicais nos festejos de São João em Salvador. A programação, que teve início em meados de junho, abrange três polos principais na capital: o Parque de Exposições, o Pelourinho e Paripe. Este investimento estadual visa impulsionar a festa que é um dos pilares culturais e econômicos mais importantes do estado.
Paralelamente ao aporte do governo estadual, a Prefeitura de Salvador também contribuiu com R$ 270 mil para sua própria programação no Pelourinho. Este valor, embora menor, reflete uma abordagem municipal focada em atrações locais e na preservação de uma proposta mais tradicional da festa junina. A distinção nos investimentos e nos locais de atuação revela uma estratégia complementar entre os níveis de governo: enquanto o estado busca a escala e o apelo de massa com grandes nomes, o município prioriza a essência cultural e o apoio à cena artística local. Essa divisão de papéis permite que a festa atinja diferentes públicos e objetivos.
O São João na Bahia é amplamente reconhecido não apenas como uma profunda celebração cultural, mas também como um significativo motor econômico. A festividade impulsiona diversos setores, como turismo, transporte, alimentação, vestuário e entretenimento, gerando um impacto que se estende para além do mês de junho. Em 2023, o Ministério do Turismo estimou que as festas juninas no Brasil movimentaram cerca de R$ 6 bilhões, com a Bahia se destacando nesse cenário. Na Bahia, o ciclo junino pode representar até 30% da receita anual de pequenos comerciantes do interior, evidenciando sua vitalidade econômica e a capacidade de transformar cidades inteiras em polos de consumo e negócios.
Os cachês milionários e a grade de atrações
Os cachês dos artistas contratados para as apresentações em Salvador pelo Governo da Bahia atingem valores expressivos. Na capital, o maior cachê registrado é de R$ 800 mil, pago a Simone Mendes. Outros nomes de destaque no Parque de Exposições incluem Leonardo, com cachê de R$ 750 mil, e Pablo, com R$ 550 mil. No polo do Pelourinho, que busca uma atmosfera mais tradicional, Alceu Valença se destaca com o maior cachê, de R$ 350 mil. A programação inclui também outros artistas renomados como Adelmário Coelho, Falamansa e Limão com Mel.
Em um panorama mais amplo do São João na Bahia, o cantor Wesley Safadão figura como o artista com o maior faturamento estimado para o período junino de 2025, ultrapassando R$ 3 milhões. Seus cachês por show chegam a R$ 1,1 milhão em cidades do interior como Oliveira dos Brejinhos, Cruz das Almas e Jequié, e R$ 900 mil em Serrinha. Outros artistas com cachês significativos confirmados para festejos em diversas cidades do estado incluem Zé Vaqueiro (R$ 700 mil), Mari Fernandez (R$ 650 mil), Bell Marques (R$ 600 mil) e Nattan (R$ 550 mil).
A comparação dos cachês pagos em Salvador com os de outras cidades do interior revela uma estratégia de descentralização do investimento em grandes atrações. Embora a capital receba um montante considerável, os maiores cachês individuais são frequentemente destinados a municípios do interior. Essa abordagem indica que o impacto econômico e cultural dos festejos juninos é distribuído por toda a Bahia, não se concentrando apenas em Salvador. Essa política de fomento regional reconhece a importância cultural e econômica do São João em todo o estado, garantindo que os benefícios da festa alcancem diversas comunidades.
A seguir, a tabela detalha os maiores cachês divulgados para o São João de Salvador em 2025:
Maiores Cachês do São João de Salvador 2025
Artista | Valor do Cachê (R$) | Local de Apresentação |
Simone Mendes | 800.000 | Parque de Exposições |
Leonardo | 750.000 | Parque de Exposições |
Pablo | 550.000 | Parque de Exposições |
Alceu Valença | 350.000 | Pelourinho |
Transparência e fiscalização: O papel do Painel do MP-BA
A fiscalização dos gastos públicos com os festejos juninos é centralizada no Painel de Transparência dos Festejos Juninos, uma ferramenta digital desenvolvida pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) em colaboração com os Tribunais de Contas do Estado (TCE) e dos Municípios (TCM), além de outras entidades como a União dos Municípios da Bahia (UPB) e o Sebrae. Esta iniciativa visa fortalecer a transparência na gestão dos recursos públicos e incentivar o controle social.
Um marco para 2025 é a adesão inédita de todos os 417 municípios da Bahia ao Painel, que repassaram informações sobre seus investimentos. Este feito representa uma melhoria substancial na governança e na prestação de contas dos gastos públicos no estado. A entrega do “Selo de Transparência 2025” aos gestores que aderiram à iniciativa cria um incentivo claro para a conformidade, estabelecendo um ciclo virtuoso de fiscalização e responsabilidade que pode mitigar futuras controvérsias sobre a aplicação de recursos em eventos culturais.
O Painel registrou um investimento total de R$ 453 milhões em contratações de artistas pelos municípios baianos para 2025. Este valor representa um aumento de 12% em relação aos R$ 404 milhões registrados em 2024 (com 331 municípios participantes) e um crescimento ainda mais expressivo comparado aos R$ 153 milhões de 2023 (com 217 municípios). A crescente adesão e o aumento dos valores declarados indicam um esforço institucional para garantir a correta aplicação dos recursos, apesar da magnitude dos montantes envolvidos.
O processo de contratação de artistas pelo Governo do Estado é realizado por meio de editais de credenciamento, publicados pela Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur). Estes editais contemplam diversas categorias, como artistas e bandas de forró, grupos de samba junino, trios e quartetos nordestinos e quadrilhas juninas. Esta metodologia reforça o compromisso do governo com a valorização das tradições nordestinas e o fortalecimento da cadeia produtiva da cultura popular durante o período junino.
Impacto econômico e justificativas governamentais
O São João é reconhecido como um pilar econômico fundamental para o Nordeste. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta que as festas juninas devem injetar mais de R$ 7,4 bilhões na economia brasileira em 2025. Na Bahia, o período junino é particularmente vital, podendo representar até 30% da receita anual de pequenos comerciantes do interior. Este aumento na circulação de recursos, aliado ao fluxo intenso de visitantes, gera um impacto significativo em setores como turismo, transporte, alimentação, vestuário e entretenimento.
As expectativas do governo para 2025 são de um impacto econômico recorde. O vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior, projetou um fluxo de 2 milhões de turistas para os festejos juninos, com uma movimentação econômica estimada em cerca de R$ 3 bilhões. A Secretaria de Turismo da Bahia (Setur-BA) corrobora essa perspectiva, estimando 1,8 milhão de visitantes e R$ 2,3 bilhões de receita, superando os números de 2024 (1,7 milhão de turistas e R$ 2 bilhões). Essas projeções ambiciosas demonstram uma clara estratégia de comunicação do governo para justificar a alocação de recursos públicos. O objetivo é legitimar os gastos não apenas pela tradição cultural, mas principalmente pelo retorno financeiro e social em termos de geração de renda e emprego, transformando a festa em um pilar de desenvolvimento regional.
Autoridades governamentais justificam os investimentos em São João como um “investimento” e não um “gasto”, enfatizando seu retorno econômico para a população. Eles ressaltam que a festa gera emprego e renda, impulsiona o turismo e fortalece a economia local. Essa narrativa busca contrapor possíveis críticas aos altos cachês, apresentando dados de impacto econômico e social. O apoio a cerca de 4 mil catadores de resíduos sólidos e 500 ambulantes cadastrados em Salvador e outros municípios, com fornecimento de equipamentos e kits para comercialização, exemplifica como o benefício econômico se estende a diversos elos da cadeia produtiva.
A economia criativa desempenha um papel crescente e significativo nos festejos juninos. Ela abrange desde a produção musical e de vestuário temático até a gastronomia e o artesanato. Iniciativas como o Doca1 Polo de Economia Criativa em Salvador, que fomenta a inovação e a reinvenção das tradições, são exemplos de como a festa se consolida como um laboratório de inovação cultural.
Repercussão pública e debates
Os altos cachês pagos a artistas e os vultosos gastos públicos com entretenimento continuam a gerar debates e críticas em diversos setores da sociedade. Essa discussão se intensifica em um contexto onde alguns municípios da Bahia, apesar de estarem em situação de emergência por estiagem, destinam quantias significativas para os festejos juninos. É o caso de Senhor do Bonfim, Quijingue e Tucano, que juntos investiram mais de R$ 14 milhões em cachês artísticos para o São João de 2025. Embora a notícia original se refira a Salvador, a existência de discussões semelhantes em outras cidades do estado amplia a complexidade da percepção pública sobre a alocação de recursos. Essa situação revela uma tensão entre o valor cultural e econômico da festa e as preocupações com a responsabilidade fiscal e a priorização de recursos em contextos de necessidade.
Uma das pautas recorrentes de debate é a presença de artistas de outros gêneros musicais, como o Axé e o Sertanejo, em festejos tradicionalmente dominados pelo forró. Enquanto alguns defendem a manutenção da tradição e a valorização exclusiva do forró, outros, incluindo artistas como Ivete Sangalo e o forrozeiro Léo Estakazero, argumentam que a inclusão de diferentes estilos musicais é natural, regional e que muitos artistas se adaptam ao espírito junino, incorporando elementos do forró em suas apresentações. Essa discussão reflete a evolução cultural da festa e a busca por um equilíbrio entre tradição e modernidade.
Em um esforço para garantir a segurança dos participantes e turistas, o Governo do Estado investiu R$ 30 milhões na Operação São João 2025. Esta é considerada a maior operação junina da história do estado, mobilizando mais de 12 mil profissionais de segurança pública, incluindo policiais militares, civis, bombeiros e agentes rodoviários. A operação também utiliza tecnologia avançada, como 1.500 câmeras, sendo 500 equipadas com reconhecimento facial, para monitorar e proteger os festejos em 281 municípios. O investimento maciço em segurança pode ser visto como uma tentativa de mitigar críticas e garantir o sucesso do evento, reforçando a percepção de que o governo está comprometido com a qualidade e segurança da festa, além de seu impacto econômico.