A tensão entre Brasil e Estados Unidos subiu vários degraus nesta sexta-feira (18), quando o governo americano anunciou, de forma repentina, a revogação imediata dos vistos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, de alguns de seus colegas na Corte e de familiares próximos. O anúncio foi feito pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e marcou um dos momentos mais críticos nas já turbulentas relações entre os dois países — tensões que só cresceram desde a volta de Donald Trump à presidência.
Trump reage após medidas contra Bolsonaro
A decisão dos EUA veio poucas horas depois de Moraes impor uma série de restrições ao ex-presidente Jair Bolsonaro: uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar à noite e veto ao uso das redes sociais. O motivo? Suspeitas de que Bolsonaro e seu filho Eduardo estariam buscando, junto ao governo Trump, interferir nos processos judiciais que tramitam no STF.
Em tom inflamado, Rubio usou sua conta no X (antigo Twitter) para acusar Moraes de liderar uma “caça às bruxas política” contra Bolsonaro. Segundo ele, o ministro teria criado um ambiente de perseguição e censura tão intenso que ultrapassaria as fronteiras brasileiras, afetando até mesmo cidadãos americanos.
Eduardo Bolsonaro e a ofensiva em Washington
Nos bastidores dessa crise está a articulação intensa de Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado, em Washington. Segundo o jornal The Washington Post, Eduardo tem atuado diretamente com aliados de Trump para pressionar por sanções contra Moraes. Desde março nos EUA, ele tem buscado apoio político e diplomático, tentando usar o peso americano para enfrentar o STF.
Na última quarta (16), Eduardo apareceu em um vídeo gravado em frente à Casa Branca, ao lado de Paulo Figueiredo — também investigado por envolvimento em ações antidemocráticas. No vídeo, ele contou que participou de uma “rodada de reuniões com autoridades americanas” para discutir retaliações contra Moraes e seus apoiadores.
Tarifas como instrumento de pressão
Mas a crise não para por aí. Na semana passada, Trump anunciou tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA, com início marcado para 1º de agosto. Em uma carta enviada ao presidente Lula, o republicano justificou a decisão dizendo que a Justiça brasileira estaria tratando Bolsonaro de maneira “vergonhosa” e classificou as ações judiciais como uma verdadeira “caça às bruxas”.
De acordo com o New York Times, essa taxação foi uma saída mais abrangente diante da resistência dentro do próprio governo americano quanto às sanções individuais contra Moraes. Ainda assim, o gesto mostrou que Trump está disposto a usar tarifas econômicas como armas políticas — mesmo que isso levante sérias dúvidas legais.
Lei Magnitsky entra em cena
As sanções anunciadas por Rubio se baseiam na Lei Magnitsky, uma legislação dos EUA que permite punir estrangeiros envolvidos em corrupção ou em graves violações de direitos humanos. Em maio, durante uma audiência no Congresso americano, Rubio já havia sinalizado que essa ferramenta poderia ser usada contra Moraes.
A lei autoriza medidas como congelamento de bens nos EUA, proibição de entrada no país e bloqueios financeiros. Mas dentro do próprio Departamento do Tesouro americano há vozes cautelosas, alertando que esse tipo de punição pode manchar a imagem dos EUA como defensores do Estado de Direito.
E o Brasil, como reage?
Até o momento, o governo brasileiro preferiu o silêncio. Nem o Itamaraty nem o STF se manifestaram oficialmente sobre a revogação dos vistos. A embaixada dos EUA no Brasil também manteve discrição.
A tensão, no entanto, já provoca calafrios no meio empresarial. Gigantes como Amazon, Coca-Cola e General Motors manifestaram preocupação com os impactos econômicos das tarifas anunciadas e, segundo fontes, vêm apoiando o governo brasileiro nas negociações para tentar reverter as medidas.
Um choque diplomático sem precedentes
Revogar o visto de um ministro do STF — e ainda de seus familiares — não é pouca coisa. Trata-se de uma ação sem precedentes e que rompe com as normas tradicionais da diplomacia entre Brasil e EUA. É um sinal claro de que Trump está disposto a intervir diretamente em assuntos internos de países aliados, usando sanções como forma de pressão.
Com as tarifas prestes a entrar em vigor em menos de duas semanas, a crise só deve se aprofundar. E o que está em jogo agora não são apenas relações diplomáticas: são décadas de parceria política e econômica entre as duas maiores potências das Américas, colocadas subitamente em xeque.