A crise política no Nepal atingiu um novo ápice de violência nesta terça-feira (9), quando Rajyalaxmi Chitrakar, esposa do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal, morreu após ter sua residência incendiada por manifestantes em Katmandu. A vítima chegou a ser levada ao Hospital de Queimados em estado crítico, mas não resistiu.
O ataque aconteceu em meio a uma onda de protestos que tomou conta da capital e de outras cidades do país desde a semana passada. A revolta começou após o governo ordenar o bloqueio de 26 redes sociais, incluindo Facebook, YouTube, LinkedIn e X (antigo Twitter). A proibição foi vista pela juventude nepalesa como censura autoritária em um país marcado por altos índices de desemprego e corrupção.
Escalada da violência
O movimento, inicialmente liderado por jovens da chamada Geração Z, evoluiu para confrontos generalizados que resultaram na morte de ao menos 25 pessoas e centenas de feridos, segundo balanços oficiais. Entre os alvos dos ataques estão residências de líderes políticos, incluindo a casa do ex-premiê Sher Bahadur Deuba, que foi espancado junto à sua esposa, a ministra das Relações Exteriores, Arzu Rana Deuba.
O então primeiro-ministro KP Sharma Oli também teve sua residência incendiada antes de anunciar a renúncia ao cargo diante da pressão popular. O Parlamento e a Suprema Corte foram igualmente incendiados por manifestantes, agravando ainda mais o cenário de caos.
Reações internas e externas
A repressão dos protestos por parte das forças de segurança, com uso de gás lacrimogêneo, balas de borracha e, segundo denúncias da Anistia Internacional, munição letal, aumentou o número de vítimas e desencadeou críticas da comunidade internacional. A ONU e a vizinha Índia pediram moderação, diálogo político e investigação das mortes.
Desde terça-feira, o Exército nepalês patrulha Katmandu sob toque de recolher imposto em áreas estratégicas, enquanto o governo interino suspendeu oficialmente o bloqueio das redes sociais.
O retrato da crise no Nepal
Essa é considerada a pior crise política no país desde a derrubada da monarquia em 2008. A juventude, que representa cerca de 43% da população nepalesa, tem sido a principal voz dos protestos, pedindo não apenas o restabelecimento das redes sociais, mas também reformas estruturais no combate à corrupção e na geração de empregos.