Os Correios anunciaram nesta segunda-feira (12) a suspensão de férias dos funcionários e o fim do trabalho remoto como parte de um pacote de medidas para enfrentar a crise financeira. A estatal registrou um prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024, o maior desde 2016 e quatro vezes superior ao resultado negativo do ano anterior.
O plano estratégico divulgado internamente visa economizar R$ 1,5 bilhão em 2025 e melhorar o fluxo de caixa da empresa, que utilizou 92% das suas reservas financeiras no último ano.
“Estamos diante de um desafio importante: a necessidade de reduzir despesas. Ao mesmo tempo, temos a oportunidade de, mais uma vez, provarmos a força e a resiliência da nossa empresa”, afirma o documento interno obtido pela imprensa.
Pacote de contenção de gastos
Entre as principais medidas anunciadas pela estatal estão:
- Suspensão temporária de férias a partir de 1º de junho de 2025, referente ao período aquisitivo deste ano, com retorno previsto apenas em janeiro de 2026
- Convocação para retorno ao regime de trabalho presencial a partir de 23 de junho de 2025, exceto para funcionários protegidos por decisão judicial
- Redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias e 34 horas semanais, com consequente redução salarial
- Revisão da estrutura da sede com corte de pelo menos 20% do orçamento de funções comissionadas
- Prorrogação das inscrições para o Programa de Desligamento Voluntário (PDV) até 18 de maio
- Lançamento de novos formatos de planos de saúde, com economia estimada de 30%
As medidas afetarão diretamente cerca de 86 mil profissionais que trabalham na empresa.
Crise financeira e fluxo de caixa
O déficit bilionário registrado em 2024 é resultado de diversos fatores, incluindo a queda nas receitas com encomendas internacionais e o aumento significativo das despesas operacionais.
Os custos operacionais aumentaram R$ 716 milhões em relação ao ano anterior, atingindo R$ 15,9 bilhões – o maior valor desde 2017. O principal fator foi o aumento dos gastos com pessoal, que passaram de R$ 9,6 bilhões em 2023 para R$ 10,3 bilhões em 2024, impulsionados pelo Acordo Coletivo de Trabalho assinado com os funcionários (R$ 550 milhões) e pelo reajuste do vale alimentação/refeição (R$ 41 milhões).
A situação financeira é agravada pelo fato de apenas 15% das 10.638 unidades de atendimento serem superavitárias.
Outro problema crítico é a redução da liquidez financeira. As Demonstrações Financeiras divulgadas na sexta-feira (9) mostram que a empresa utilizou R$ 2,9 bilhões do dinheiro que estava em caixa e aplicações financeiras, restando apenas R$ 249 milhões nessas contas.
Esta escassez tem causado atrasos nos pagamentos a transportadoras e franqueados, resultando em demoras no envio e entrega de encomendas desde o início de abril.
Investimentos e planos futuros
Apesar do cenário desafiador, os Correios afirmam que manterão sua estratégia de investimentos em soluções tecnológicas e redução do impacto ambiental. Em 2024, a empresa investiu R$ 830 milhões, totalizando R$ 1,6 bilhão desde o início da atual gestão.
Parte desses recursos foi destinada à renovação da frota, com a aquisição de 50 furgões elétricos, 3.996 bicicletas cargo com baú, 2.306 bicicletas elétricas e 1.502 veículos convencionais.
Entre os planos para 2025, a empresa prevê o lançamento de um marketplace próprio e a captação de R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB) para investimentos internos.
“A sustentabilidade continuará a ser tema central em nosso dia a dia. Esperamos evoluir ainda mais em nossos propósitos de caráter social e ambiental”, afirmou a empresa em comunicado