Marcel José Carneiro de Carvalho, o ex-prefeito de Paratinga se tornou alvo nacional da Polícia Federal após ter R$ 3,2 milhões em espécie encontrados em gavetas de armário de sua residência. A apreensão ocorreu na sexta-feira (27) durante a quarta fase da Operação Overclean, que investiga desvios de emendas parlamentares e fraudes licitatórias na Bahia.
O político de 46 anos, nascido na própria cidade que administrou, exerceu três mandatos consecutivos como prefeito de Paratinga, sendo eleito em 2008, 2016 e 2020. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), Marcel comandou a administração municipal entre 2020 e 2024, período que concentra as principais suspeitas investigadas pela Polícia Federal.
Disparidade entre patrimônio declarado e valores apreendidos
Durante a última eleição, Marcel declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de apenas R$ 256 mil, composto por uma fazenda, uma caminhonete e um carro de som. A quantia encontrada pela PF representa mais de 12 vezes o valor total dos bens declarados pelo ex-gestor.
A contabilização do dinheiro apreendido levou mais de cinco horas para ser concluída, iniciando na manhã de sexta-feira e se estendendo até o fim da tarde. Os maços de cédulas estavam distribuídos em pelo menos duas gavetas do armário, misturados com roupas e outros objetos pessoais.
Esquema de corrupção envolvendo emendas parlamentares
As investigações da Operação Overclean apontam que Marcel participava de um esquema que envolvia o pagamento de propinas para liberação de emendas parlamentares federais destinadas a Paratinga, Boquira e Ibipitanga. O grupo criminoso também manipulava licitações municipais para beneficiar empresas ligadas aos investigados.
O deputado federal Félix Mendonça (PDT-BA) teve o sigilo telefônico quebrado por determinação do Supremo Tribunal Federal, sendo apontado como o parlamentar cujas emendas eram objeto do esquema fraudulento. Seu assessor, Marcelo Gomes, foi identificado como principal operador financeiro da organização criminosa.
Outros alvos da operação na Bahia
Além de Marcel, a quarta fase da Operação Overclean resultou no cumprimento de 16 mandados de busca e apreensão em Salvador, Camaçari, Boquira, Ibipitanga e Paratinga. Os prefeitos de Ibipitanga, Humberto Raimundo Rodrigues de Oliveira, e de Boquira, Alan Machado, foram afastados dos cargos e presos em flagrante.
Três servidores públicos foram afastados cautelarmente de suas funções como medida preventiva. A operação contou com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Receita Federal, demonstrando a amplitude do esquema investigado.
Defesa nega irregularidades
Em nota oficial, a defesa de Marcel José Carneiro de Carvalho informou que recebeu a medida de busca e apreensão “com absoluta tranquilidade” e que o ex-prefeito está disponível para prestar esclarecimentos às autoridades. Os advogados não se pronunciaram especificamente sobre a origem dos R$ 3,2 milhões encontrados.
O deputado Félix Mendonça também negou qualquer irregularidade, afirmando que as emendas parlamentares foram destinadas “de forma lícita, com obtenção de ganho exclusivamente político”. O parlamentar disse ter sido surpreendido ao ser apontado como alvo da investigação.
Histórico da Operação Overclean
A Operação Overclean já está em sua quarta fase e tem como objetivo desarticular esquemas de corrupção envolvendo recursos públicos federais na Bahia. Nas fases anteriores, a PF prendeu o empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, apontado como líder de um esquema que desviou cerca de R$ 1,4 bilhão.
A investigação também resultou na apreensão de R$ 1,5 milhão em um jatinho com destino a Brasília, valor que seria destinado como propina para servidores federais. Diversos políticos e empresários já foram presos ao longo das operações anteriores.
Marcel José Carneiro de Carvalho permanece em liberdade enquanto as investigações prosseguem. A Polícia Federal continua analisando documentos e contratos firmados durante sua gestão para determinar a extensão de sua participação no esquema investigado.