O agronegócio brasileiro enfrenta apreensão diante da possibilidade de sanções por parte dos Estados Unidos. A preocupação principal reside na expressiva dependência do país em relação à importação de fertilizantes e diesel da Rússia, especialmente após alertas de representantes do setor e da bancada ruralista ao Itamaraty. Há um temor real de que retaliações norte-americanas possam impactar outras exportações brasileiras.
Contexto das Sanções e Dependência
A ameaça de medidas punitivas não é nova. Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, afirmou em 14 de julho de 2025 que os EUA poderiam impor “tarifas secundárias de 100%” sobre nações que continuarem a adquirir produtos russos, caso a Rússia não alcance um acordo de paz com a Ucrânia. Essa política incluiria penalidades indiretas a compradores de commodities como petróleo, gás, urânio e, de forma crucial para o Brasil, fertilizantes. A informação foi corroborada por Scott Bessent, secretário Internacional do Tesouro dos EUA, e Mark Rutte, secretário-geral da Otan.
O Brasil, que se posiciona como o quarto maior consumidor global de fertilizantes, importa mais de 90% desse insumo fundamental para a produção agrícola. A Rússia destaca-se como o maior fornecedor, sendo responsável por 30% do volume total importado pelo Brasil. Culturas de grande importância como soja, milho e cana-de-açúcar dependem intensamente desses insumos, respondendo por mais de 73% do consumo nacional. A dependência não se limita aos fertilizantes; o país também importa mais de 60% de seu diesel da Rússia, tornando-o o segundo produto russo mais importado pelo Brasil, atrás apenas dos fertilizantes.
Crescimento da Dependência e Alertas Oficiais
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) revelam uma tendência de crescimento na dependência brasileira de fertilizantes russos. Projeções para 2025 indicam que o volume importado pode ultrapassar 12 milhões de toneladas, estabelecendo um novo recorde histórico. No primeiro semestre do ano, o Brasil já adquiriu 5,71 milhões de toneladas do produto. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio de seu presidente Ricardo Alban, manifestou que o governo brasileiro deve permanecer em alerta para o risco de proibições de compras de produtos brasileiros como retaliação.
Uma comitiva de senadores brasileiros que visitou os Estados Unidos na semana passada com o objetivo de sensibilizar o governo norte-americano sobre as tarifas já impostas, retornou com a percepção de que a principal inquietação americana reside no expressivo volume de combustível que o Brasil adquire dos russos. A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) preferiu não comentar publicamente o assunto. A senadora Tereza Cristina (PP-MS), que participou das discussões nos EUA, não se manifestou até a publicação desta notícia.
A decisão do ex-presidente Trump sobre possíveis sanções, especialmente no que tange à compra de petróleo, era aguardada para esta quarta-feira (6), após um encontro com autoridades russas.