A Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público estadual (MPRJ) deflagraram nesta quarta-feira (24 de setembro) a Operação Blasfêmia. O alvo principal foi Luiz Henrique dos Santos Ferreira, conhecido como “Pastor Henrique Santini” ou “Profeta Santini”, apontado como chefe de um esquema de estelionato religioso que arrecadou ao menos R$ 3 milhões em dois anos.
Como funcionava o golpe
As investigações revelaram que a fraude tinha cara de empresa. Um call center com cerca de 70 atendentes funcionava em escritórios no Centro de Niterói e em São Gonçalo, na Região Metropolitana. Esses trabalhadores eram recrutados por meio de anúncios na internet, sem nenhum vínculo com a igreja.
A função deles era se passar pelo pastor em conversas de WhatsApp. Para convencer as vítimas, usavam áudios gravados de Santini com promessas de curas, soluções financeiras e até bênçãos amorosas. No fim, sempre vinha a cobrança: a “oração” só acontecia depois de uma doação via PIX, que podia variar de R$ 20 a R$ 1.500.
Estrutura empresarial
O grupo operava como se fosse uma central de vendas. Havia metas semanais de arrecadação e pagamento de comissões. Quem não batia a meta era dispensado.
O dinheiro entrava em contas bancárias abertas em nome de terceiros, dificultando o rastreamento. De acordo com a polícia, entre 2022 e 2024 o esquema movimentou mais de R$ 3,3 milhões.
Quem é Santini
Com mais de 8 milhões de seguidores nas redes sociais, Luiz Henrique Santini construiu uma imagem de líder carismático. Em seus perfis, postava vídeos com mensagens religiosas e divulgava números de contato direto. Era por ali que muitos fiéis entravam em contato em busca de ajuda espiritual.
Santini é responsável pela Casa dos Milagres, no bairro Laranjal, em São Gonçalo. Durante o cumprimento dos mandados, na residência dele, na Barra Olímpica, os policiais tiveram de ameaçar arrombar a porta para entrar. Dentro do imóvel, encontraram computadores, celulares, documentos, dinheiro em espécie e até uma pistola dourada registrada.
Investigação começou em fevereiro
A apuração começou em fevereiro deste ano. Em uma primeira ação, 42 pessoas foram flagradas atendendo fiéis pela internet. Nessa etapa, a polícia apreendeu 52 celulares, seis notebooks e 149 chips de telefonia.
A análise do material revelou milhares de vítimas espalhadas por diferentes estados. Um ponto considerado ainda mais grave foi a descoberta de que pelo menos sete adolescentes haviam sido contratados para trabalhar no esquema, o que levou à acusação de corrupção de menores.
O que a Justiça determinou
Entre as medidas cautelares impostas a Santini estão o uso de tornozeleira eletrônica, bloqueio de contas pessoais e de seis empresas ligadas a ele, além do sequestro de bens. Também foi definido um valor mínimo para reparação às vítimas.
No total, 23 pessoas foram denunciadas. Elas respondem por estelionato, charlatanismo, curandeirismo, associação criminosa, falsa identidade, crime contra a economia popular, corrupção de menores e lavagem de dinheiro. As penas, somadas, podem chegar a 29 anos de prisão.
O que dizem polícia e defesa
Segundo o delegado Luiz Henrique Marques, da 76ª DP (Niterói), a prática não tinha ligação com religião de fato. “Essa organização criminosa em nada tem a ver com um culto religioso. A intenção era arrecadar dinheiro e enganar os fiéis”, afirmou.
Já Santini se defendeu dizendo ser vítima de “perseguição religiosa”. Em entrevista à TV Globo, declarou: “Sou surpreendido com um mandado de busca e apreensão, e até agora não encontraram nada que pudesse me incriminar. Colaborei em tudo. Eu entendo isso como perseguição religiosa”.
O que vem pela frente
As investigações continuam. A polícia e o Ministério Público querem identificar outras vítimas e possíveis envolvidos. Para os investigadores, o caso mostra como grupos criminosos se aproveitam da fé e da vulnerabilidade das pessoas, usando redes sociais e estratégias típicas de telemarketing para aplicar golpes de grande escala.