É difícil encontrar palavras para descrever a dor de uma família do bairro Jardim Valéria, em Vitória da Conquista, que, na tarde de segunda-feira (28), viu sua rotina virar de cabeça para baixo em questão de segundos. O pequeno Riquelme Novais Cerqueira, com apenas um ano e nove meses de vida, teve seus sonhos interrompidos de forma brutal ao ser atropelado por um carro em alta velocidade, bem ali, em frente de casa, enquanto brincava de bola com o tio na Rua Rogério Itamar da Silveira.
A tragédia ficou registrada pelas câmeras de segurança da rua. E as imagens não deixam dúvidas sobre a violência do acidente: o carro passa correndo e atinge Riquelme, arremessando o menino a cerca de 30 metros. O que já era dramático fica ainda pior com a atitude do motorista, que fugiu sem prestar socorro.
Uma Família Destroçada
O relato de Leandro Cerqueira, pai do menino, é daqueles que cortam o coração. “Eu estava dentro de casa, escutei o barulho e fui pegar meu filho já morto. Levei ele morto no hospital”, contou, em meio à dor e à incredulidade de quem viu a vida mudar completamente por conta da imprudência de um estranho.
O bairro, segundo os próprios moradores, sempre foi tranquilo. Crianças brincando na rua era cena comum — e até então, segura. Justamente por isso, o choque tomou conta não só da família, mas de toda a comunidade.
A situação ficou ainda mais revoltante quando se soube que o motorista, de 24 anos, dirigia um carro emprestado e, segundo ele, estava nervoso porque o dono do veículo tinha ligado cobrando a devolução. Uma explicação que, se confirmada, só aumenta a sensação de injustiça.
As Imagens que Ninguém Quer Ver
O vídeo das câmeras de segurança mostra cada detalhe dos momentos que antecederam o acidente. Riquelme, distraído e feliz, corria atrás da bola, sem imaginar o perigo. O carro, em velocidade bem acima do normal para uma rua residencial, não deu chance alguma. O impacto foi tão forte que, infelizmente, não havia o que fazer. Familiares e vizinhos até tentaram socorrer, mas o menino chegou ao hospital já sem vida.
Justiça e Consequências
Depois de horas foragido, o motorista se apresentou à polícia acompanhado da advogada. Acabou preso em flagrante, acusado de homicídio culposo com omissão de socorro — ou seja, matou sem intenção, mas foi negligente e fugiu. O delegado Joildo Souza dos Humildes explicou que, embora não haja intenção de matar, a lei prevê penas maiores para quem foge e não socorre a vítima.
A punição, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, pode chegar a quatro anos de detenção, além da suspensão do direito de dirigir. E, claro, há agravantes — como dirigir rápido demais ou fugir sem prestar ajuda.
O motorista, em depoimento, disse que só viu um adulto na rua, não percebeu a criança e estava a uns 40 ou 50 km/h. Mas, pelas imagens, fica difícil acreditar nessa versão.
O Brasil e a Triste Estatística dos Acidentes com Crianças
Infelizmente, tragédias assim não são tão raras por aqui. Acidentes de trânsito são a principal causa de mortes acidentais entre crianças de até 14 anos no Brasil. Os números impressionam: todo ano, quase 3.600 crianças perdem a vida em acidentes nas ruas e estradas, segundo o Ministério da Saúde. E, só em 2023, o índice de acidentes com crianças e adolescentes aumentou quase 8%. Isso significa que, a cada hora, 13 crianças são internadas por esse motivo — sendo que a maioria desses casos poderia ser evitada.
Outro dado que preocupa: mais de um terço dessas mortes ocorre enquanto as crianças estão a pé ou de bicicleta. Ou seja, o perigo está nas calçadas e nas ruas dos próprios bairros.
Por Que as Crianças São Mais Vulneráveis?
Crianças pequenas, como Riquelme, não têm o mesmo senso de perigo dos adultos. Elas são baixas, têm o campo de visão mais limitado e, muitas vezes, não conseguem avaliar bem a velocidade de um carro se aproximando. Além disso, basta um brinquedo escapar para que, num impulso, corram para a rua sem olhar para os lados. Não é exagero dizer: crianças menores de 10 anos não deveriam andar sozinhas nas ruas.
Dor Que Não Tem Fim
Nada se compara à dor de perder um filho. Para pais que passam por isso, a sensação de vazio é quase insuportável. Especialistas explicam que a perda violenta — especialmente quando poderia ter sido evitada — traz consigo sentimentos de revolta, culpa, tristeza profunda e até medo. Muitas famílias precisam de acompanhamento psicológico para lidar com o trauma e tentar encontrar algum sentido depois de uma perda assim.
Fugir Não é Opção
Um dos aspectos mais revoltantes desse caso foi a fuga do motorista. O Código de Trânsito é bem claro: não importa se alguém já começou o socorro ou se a vítima não resistiu, o motorista TEM que parar e pedir ajuda. Não fazer isso é crime — com prisão e multa pesada. Quando isso acontece junto com o homicídio culposo, a pena aumenta ainda mais.
O Que Pode Ser Feito para Evitar Novas Tragédias?
A morte do pequeno Riquelme levantou uma discussão importante sobre a necessidade de medidas de segurança em bairros residenciais. Especialistas são unânimes: limitar a velocidade nessas áreas é fundamental. Lombadas, travessias elevadas e sinalização adequada ajudam — e muito. Tecnologias como câmeras de velocidade também têm se mostrado eficazes, reduzindo a velocidade dos carros e evitando acidentes.
Criar zonas de baixa velocidade, especialmente perto de escolas, pode salvar muitas vidas. Cidades que adotaram essas medidas, como Fortaleza, conseguiram reduzir drasticamente o número de mortes no trânsito.
Educação Para o Trânsito: O Começo de Tudo
Ensinar crianças e adultos sobre regras de trânsito é um investimento no futuro. Desde cedo, as escolas devem falar sobre o assunto — e a lei brasileira já prevê isso. Campanhas educativas, como o “Dezembro Vermelho”, também são importantes para lembrar a todos sobre os perigos e as responsabilidades no trânsito.
Leis que Protegem os Pequenos
A legislação tem avançado para proteger ainda mais as crianças. Desde 2021, menores de 10 anos e que tenham menos de 1,45 metro só podem andar no banco de trás e usando cadeirinha adequada. O uso correto desses dispositivos pode diminuir em até 71% o risco de morte em caso de acidente.
E para motos? Crianças só podem andar a partir dos 10 anos. Quem desrespeita essas regras, além de colocar vidas em risco, leva multa pesada.
O Desafio de Vitória da Conquista
Vitória da Conquista, com seus mais de 150 mil carros circulando, enfrenta desafios típicos de cidades grandes, principalmente em relação à segurança nas ruas. A Câmara Municipal já tem discutido o assunto em audiências públicas, buscando soluções e cobrando mais educação para o trânsito, especialmente desde a infância.
O Retrato Nacional: Trânsito Que Mata
O Brasil ainda registra números assustadores: em 2024, mais de 6 mil pessoas morreram nas estradas federais — sendo a Bahia o segundo estado com maior número de mortes. Excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas e desrespeito ao cinto de segurança lideram o ranking das infrações.
O Caso de Riquelme e o Pedido por Justiça
A morte de Riquelme gerou comoção em Vitória da Conquista. Moradores cobraram justiça e medidas mais rígidas de fiscalização. Muitos pedem lombadas, mais sinalização e uso de tecnologia para impedir que novos casos aconteçam. A cobrança é por justiça não só para punir, mas para impedir que outros passem pelo mesmo sofrimento.
Como Evitar Tragédias?
Organizações como a Criança Segura dão dicas práticas: criança só deve brincar longe da rua, sempre usar equipamentos de segurança e nunca andar desacompanhada antes dos 10 anos. E, claro, campanhas de conscientização, fiscalização e adaptação das ruas precisam caminhar juntas.
Um Alerta Para Todos Nós
A tragédia de Vitória da Conquista serve de alerta. É preciso agir agora — com educação, fiscalização, engenharia de tráfego e, principalmente, empatia. A meta global é cortar pela metade o número de mortes no trânsito até 2030, mas, para isso, cada um tem que fazer a sua parte: motoristas mais atentos, poder público atuante e sociedade engajada.
Para Refletir
A morte de Riquelme não pode virar apenas mais um número nas estatísticas. Ela representa uma família destruída, um bairro em luto e um chamado à ação. Que o sofrimento desta família inspire mudanças reais, tornando nossas ruas mais seguras para todas as crianças.
Cada vida salva, cada tragédia evitada é uma homenagem a quem partiu cedo demais. O futuro da segurança no trânsito está, literalmente, em nossas mãos.