É com um aperto no coração que olhamos para os dados recentes de Salvador, na Bahia. O primeiro semestre deste ano trouxe um alerta preocupante: a Delegacia de Atendimento ao Idoso registrou mais de 2.300 casos de estelionato contra nossa população mais experiente. Isso representa um salto assustador de mais de 61% em comparação ao ano passado. É um número que não só choca, mas também nos faz refletir sobre a crescente vulnerabilidade dos nossos idosos, especialmente diante dos golpes cada vez mais sofisticados no ambiente digital.
Essa escalada nos crimes, que miram diretamente o patrimônio de quem já construiu uma vida, é uma preocupação gigante para as autoridades. A delegada Cristiane Leite, que comanda a unidade especializada, é clara ao dizer: esses criminosos se aproveitam da vulnerabilidade, da dificuldade que muitos idosos têm em entender certos mecanismos e, por vezes, até de uma certa inocência. O modus operandi é quase sempre o mesmo: empréstimos e transferências bancárias, orquestrados através do universo virtual e das redes sociais.
Para entender a gravidade do problema, nada como ouvir uma história real. Uma senhora de 79 anos, que preferiu manter o anonimato, viveu um pesadelo: perdeu R$ 80 mil ao tentar comprar um imóvel, sem compreender de fato como funcionava um consórcio. Ela relata, com a voz embargada: “Eu vendi a casa por R$ 90 mil. Uma casinha que tinha. Passei R$ 80 mil para ele e fiquei com R$ 10 mil no banco. Eu não sabia o que era consórcio.” E complementa a sua ingenuidade com a situação: “Não entendia nada de consórcio. Pensei que era como comprar uma casa dando entrada e depois continuasse pagando.” Uma história que, infelizmente, se repete com muitas outras famílias.
Não é só em Salvador: um problema nacional
Essa triste realidade de Salvador não é um caso isolado, mas um reflexo de uma tendência que preocupa o país todo. O Brasil tem hoje cerca de 35 milhões de pessoas com 60 anos ou mais – um grupo que não para de crescer e que, desde 2003, é amparado pelo Estatuto da Pessoa Idosa. Essa lei garante direitos essenciais, como saúde, alimentação, transporte e liberdade.
No entanto, mesmo com toda essa proteção legal, nossos idosos continuam sendo um alvo fácil para criminosos, principalmente quando o assunto é dinheiro. Alexandre da Silva, secretário Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, destaca que, além das agressões físicas e emocionais, a “violência patrimonial financeira” tem crescido de forma alarmante. É como se, além de tudo, ainda roubassem a tranquilidade de quem deveria estar desfrutando da vida.
Como se proteger? Dicas essenciais!
Diante de um cenário tão complexo, a prevenção digital se torna a nossa principal ferramenta de defesa. O delegado Felipe Santos, também da Delegacia do Idoso de Salvador, é enfático: precisamos redobrar a atenção com tudo o que fazemos online. Sabe aquela seriedade que você tem com a sua senha do banco? Pois é, ela precisa ser estendida a todos os aplicativos financeiros e governamentais que estão no seu celular ou computador.
E o alerta mais importante: desconfie de qualquer ligação suspeita! Aquela mensagem ou telefonema de um suposto familiar pedindo uma transferência via PIX urgente ou o pagamento de um boleto estranho? Fique de olho, ligue diretamente para a pessoa para confirmar, nunca confie apenas na mensagem. Proteger-se é a melhor forma de não cair em ciladas.
A persistência e o crescimento desses crimes exigem uma resposta contínua e forte. A atuação incansável da Polícia Civil na Bahia, aliada à conscientização e aplicação de diretrizes de segurança digital, são cruciais para virar esse jogo. O objetivo final é um só: reforçar a proteção que o Estatuto da Pessoa Idosa já garante, salvaguardando os direitos e o patrimônio de uma geração que merece todo o nosso respeito e cuidado, e não ser vista como um alvo fácil para estelionatários.