Em 2024, a antiga gestora do Porto Organizado de Aratu, a GDK, voltou ao centro de uma investigação da Polícia Civil em Candeias, na Bahia. A denúncia alega a existência de um esquema para desviar combustíveis e até movimentações ligadas ao tráfico.
O que diz a denúncia
O documento foi enviado ao delegado titular da 20ª Delegacia Territorial e traz relatórios da própria Companhia Docas de Candeias, registrados quando os técnicos entraram na área após a confirmação do direito de imissão de posse.
Segundo a apuração, no local havia comercialização indevida de combustíveis e indícios de venda de entorpecentes. Também foi apontada a possível existência de uma ligação por duto entre a área do porto e instalações da Codeba, o que, na visão dos investigadores, poderia facilitar o desvio de produtos químicos.
Foram encontrados equipamentos de mergulho considerados sofisticados. Para quem acompanha casos assim, isso acende um alerta: a proximidade com navios de bandeira internacional facilitaria operações de retirada de cargas no mar.
Operações anteriores e o esquema com nafta
Em outra frente, a Polícia Civil já havia realizado, em 2024, uma operação para desarticular um grupo que atuava nas dependências da Codeba, notícia divulgada na época pelo Informe Baiano. Fontes da investigação relataram um padrão: quando navios chegavam carregados com nafta, integrantes do grupo pagavam cerca de R$ 250 mil aos responsáveis pelas embarcações e usavam uma balsa clandestina para retirar o produto ainda em alto mar.
A balsa atracava na lateral do Porto de Aratu, na área conhecida como GDK, onde caminhões-tanque eram abastecidos. O material seguia para um galpão na localidade da Caroba, em Candeias, e, eventualmente, para depósitos em Camaçari e Dias D’Ávila.
A investigação também aponta que o mesmo espaço poderia ter sido locado em conjunto entre a associação investigada e grupos ligados ao tráfico internacional de drogas, como o PCC e o Bonde do Maluco (BDM).
Prisões e suspeitos
Na semana passada, equipes do Departamento de Polícia do Interior (Depom) prenderam um suspeito apontado como líder do esquema, conhecido como ‘Charutinho’. A denúncia diz que ele controlava uma cooperativa na Caroba e coordenava transações irregulares relacionadas ao Porto de Aratu.
Em uma das ações, três homens foram presos em flagrante na BR-523 enquanto transportavam, em três caminhões-tanque, um total de 126 mil litros de nafta. As investigações os apontam como chefe principal da organização, um comprador do material e um intermediário.
Questões administrativas
A denúncia também trata da situação do imóvel. O acionista majoritário da antiga proprietária, a GDK S/A Massa Falida, afirmou ter firmado um contrato de comodato com a empresa Word Transporte LTDA para justificar a presença desta no local — porém, o documento não foi apresentado. O atual administrador da massa falida declarou que tal contrato nunca existiu.
O relatório sugere que o acionista Cesar Oliveira poderia ter atuado para ocultar eventual relação da empresa com as atividades no espaço.
Próximos passos
A denúncia, apresentada no final de julho, pediu providências à 20ª Delegacia Territorial para apurar práticas ilícitas cometidas por terceiros antes da imissão de posse da nova gestão e verificar se crimes seguem ocorrendo na área do porto. As medidas solicitadas estão sob análise da autoridade policial.
Resta agora aguardar as apurações e as decisões da polícia sobre as próximas etapas da investigação.