A Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Overclean, cumprindo ao menos 15 dos 17 mandados de prisão expedidos pela Justiça. A ação visa desarticular um esquema de desvio de recursos públicos originados de emendas parlamentares e convênios, com foco principal em verbas destinadas ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), especialmente em sua Coordenadoria Estadual na Bahia.
A investigação aponta que a organização criminosa movimentou cerca de R$ 1,4 bilhão. Desse total, aproximadamente R$ 825 milhões foram registrados em contratos firmados com órgãos públicos somente neste ano. Os crimes em foco incluem corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos, além de lavagem de dinheiro.
Alvos da Operação e Mecanismos da Fraude
Entre os alvos dos mandados de prisão estão empresários, servidores e ex-dirigentes de órgãos públicos. A lista de nomes identificados revela a amplitude do esquema:
- Lucas Lobão: Ex-coordenador do DNOCS na Bahia, é apontado por facilitar a aprovação de contratos fraudulentos e continuar operando nos bastidores após sua exoneração. Ele é associado a Alex Parente e seria sócio oculto da Allpha Pavimentações.
- Alex Rezende Parente: Responsável por financiar as atividades ilícitas, definir diretrizes e controlar os membros do grupo. Ele administra as empresas Allpha Pavimentações, Larclean Ambiental e Qualymulti Serviços.
- Fábio Rezende Parente: Irmão de Alex Parente, atuava como executor financeiro, realizando transferências e pagamentos de propinas, inclusive por meio de contas de terceiros.
- José Marcos de Moura: Conhecido como “Rei do Lixo”, é apontado como financiador e coordenador de atividades ilícitas, responsável pela expansão da rede criminosa e influência em diversas esferas.
- Flávio Henrique Pimenta: Servidor da Secretaria Municipal de Educação de Salvador, que teria trocado informações privilegiadas com Alex Parente para beneficiar a Larclean em processo licitatório.
- Kaliane Lomanto Bastos: Coordenadora de Projetos na Secretaria de Infraestrutura de Jequié, que teria recebido R$ 48.700,00 em propina para liberar pagamentos de contratos da Allpha.
- Claudinei Aparecido Quaresemin: Operador regional no Tocantins, recebeu R$ 805.400,00 em transferências de Alex Parente.
Bens Bloqueados e Colaboração Internacional
A Justiça determinou o sequestro de R$ 162,4 milhões, valor correspondente aos ganhos ilícitos da organização. Aeronaves, imóveis de alto padrão, barcos e veículos de luxo foram alvos dessa medida. Adicionalmente, oito servidores públicos foram afastados de suas funções.
A apuração contou com a colaboração da Agência Americana de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI), que auxiliou a identificar o direcionamento de recursos públicos por meio de superfaturamento de obras e desvio para empresas e indivíduos ligados a administrações municipais.
Além dos mandados de prisão, 43 mandados de busca e apreensão ainda estão em fase de cumprimento em diversas cidades na Bahia, como Salvador, Lauro de Freitas, Jequié, Itapetinga, Campo Formoso, Mata de São João e Wagner. A operação também se estende aos estados de São Paulo, Goiás e Tocantins, e conta com a participação do Ministério Público Federal (MPF), Receita Federal e Controladoria-Geral da União (CGU).