Um homem invadiu, na manhã de domingo (31), o mutirão do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na Agência da Previdência Social Odilon Dórea, no bairro de Brotas, em Salvador, carregando um galão de gasolina. Ele ameaçou atear fogo em si mesmo e no local, alegando estar há quatro meses sem receber um benefício. A ação gerou pânico entre segurados que aguardavam atendimento.
A agência estava lotada no momento do episódio, com dezenas de pessoas que buscavam perícia médica e liberação de auxílios. Uma mulher chegou a desmaiar e precisou ser socorrida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
Situação controlada pela polícia
Equipes do INSS e da Polícia Militar conseguiram conter o homem sem que ninguém se ferisse. Ele foi detido, encaminhado à Polícia Civil junto com o galão de combustível e passou por exames de corpo de delito. Após a intervenção, os atendimentos foram retomados e o mutirão seguiu normalmente.
Segundo apuração da TV Bahia, o homem afirmou estar “desesperado” pela demora no recebimento do auxílio. Sua fala reflete a realidade de milhares de brasileiros que aguardam meses para ter acesso a benefícios previdenciários e assistenciais.
Mutirão nacional em 45 cidades
A ação em Salvador integra um mutirão nacional do INSS realizado em 45 cidades brasileiras para acelerar a chamada “perícia conectada” e reduzir o tempo de espera. Apenas no fim de semana, foram atendidas cerca de 8.775 pessoas em todo o país.
Na capital baiana, o foco foi a análise de pedidos de Benefício por Incapacidade Temporária (antigo auxílio-doença) e de Benefício de Prestação Continuada (BPC). A unidade de Brotas concentra o maior número de perícias médicas da cidade.
Fila em crescimento
Os atrasos no pagamento de benefícios têm se agravado. Em junho de 2025, a fila do INSS somava 2,44 milhões de requerimentos, alta de 81% em relação ao ano anterior.
Na Bahia, levantamento de 2023 apontava 109 mil pessoas na fila, sendo cerca de 60 mil apenas para perícias médicas. O tempo médio de espera em Salvador é de três meses, podendo ser maior no interior.
Entre o direito e o desespero
O caso em Salvador não foi o primeiro envolvendo violência em agências. Em julho, um homem invadiu uma unidade em Bauru (SP) com um coquetel molotov. Diante da recorrência, o INSS implantou em 2024 uma política nacional de prevenção à violência no ambiente de trabalho.
Apesar disso, a sobrecarga do sistema continua sendo um fator de risco. Para especialistas, cada número na fila representa uma pessoa que depende da renda para garantir alimentação, tratamento de saúde e dignidade.
Nota oficial
Em comunicado, o INSS reforçou o compromisso com a segurança de servidores e beneficiários e informou que os atendimentos do mutirão seguiram normalmente após a ocorrência.
O episódio expõe um dilema: enquanto os mutirões representam alívio temporário para alguns segurados, a fila crescente e a demora nos pagamentos seguem empurrando muitos brasileiros para situações-limite.