Na manhã desta quinta-feira, 25 de setembro, autoridades estaduais deflagraram a Operação Spare, um novo e contundente capítulo no combate ao crime organizado em São Paulo. A ofensiva, conduzida de forma integrada pela Polícia Militar, Ministério Público e Secretaria da Fazenda, teve como alvo uma sofisticada rede de lavagem de dinheiro que movimentava valores bilionários por meio de postos de combustíveis, motéis e até uma fintech.
A ação resultou no cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão em diferentes regiões, incluindo a capital, a Grande São Paulo, a Baixada Santista e o Vale do Paraíba. O bloqueio de bens, documentos e contas bancárias expôs um prejuízo fiscal que ultrapassa R$ 7 bilhões em autos de infração e R$ 500 milhões já inscritos em dívida ativa do Estado.
Esquema sofisticado e alcance inédito
A investigação revela como o crime organizado paulista tem ampliado sua atuação para além dos modos tradicionais. A Operação Spare teve origem a partir de pistas colhidas na Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto, que já havia revelado a ligação de facções criminosas com o setor de combustíveis. Agora, os órgãos de controle conseguiram mapear um esquema ainda maior: ao menos 267 postos de combustíveis, 60 motéis e uma fintech eram usados para movimentar e lavar recursos de origem ilícita.
O esquema operava de maneira complexa. O dinheiro sujo era alimentado por casas de jogos clandestinos, com máquinas de cartão ligadas a postos que “esquentavam” os lucros. Depois, uma fintech do grupo facilitava transações financeiras, ocultando a origem dos valores. Parte desses recursos era reinvestida em motéis e empresas de fachada, criando uma rede que dificultava o rastreamento do patrimônio.
Mobilização e integração institucional
A Operação Spare envolveu mais de 110 policiais militares do Comando de Choque, auditores fiscais, agentes do Ministério Público e da Receita Federal. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, destacou a importância da integração entre os órgãos para sufocar financeiramente as organizações criminosas, reduzindo sua capacidade de influenciar o mercado e corromper estruturas do Estado.
Durante coletiva, Paulo Ribeiro, subsecretário adjunto da Receita Estadual, explicou que o mapeamento de vínculos cadastrais e o bloqueio da criação de novas empresas foram essenciais para interromper o ciclo de fraude. Segundo ele, o trabalho de inteligência permitiu identificar ligações entre pessoas físicas e jurídicas suspeitas, resultando em autos de infração históricos.
O governador Tarcísio de Freitas, por sua vez, afirmou que não haverá trégua no combate ao crime organizado, reiterando o compromisso do Estado em enfrentar tanto a violência quanto o braço financeiro dessas organizações.
Impactos para a sociedade e o setor formal
O alcance do esquema vai além dos prejuízos aos cofres públicos. A fraude afeta diretamente consumidores, ao comprometer a qualidade do combustível vendido e prejudicar postos que atuam legalmente. Trabalhadores do setor e pequenos empresários sofrem com a concorrência desleal, enquanto a sonegação de impostos reduz investimentos em áreas essenciais, como saúde e educação.
Novos bloqueios e avanços recentes
Em paralelo à Operação Spare, a Procuradoria-Geral do Estado conseguiu liminares para bloquear até R$ 7,6 bilhões em bens de 55 envolvidos, incluindo imóveis, veículos de luxo e ativos financeiros. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já sinalizou que a Receita Federal publicará normas para identificar os verdadeiros beneficiários em cadeias complexas de transações, dificultando brechas exploradas por organizações criminosas.
Próximos passos e expectativas
Com a apreensão de documentos e o bloqueio de patrimônio, a Operação Spare representa uma resposta robusta do Estado ao crime organizado financeiro. Nos próximos dias, as autoridades vão analisar o material coletado para aprofundar as investigações e identificar outros envolvidos. A expectativa é que a ação sirva de exemplo para outras regiões do Brasil, reforçando a mensagem de que crimes dessa natureza não passarão impunes.