Imagine acordar e encontrar, no muro da sua casa, uma mensagem ameaçadora escrita em letras garrafais. Uma ordem direta: “Vocês têm 24 horas para sair fora, senão vão morrer.” Assim começou o pesadelo de uma família de policial na Barra do Ceará, em Fortaleza, na madrugada do dia 1º de maio.
A cena, digna de filme, é real e revela uma tática cada vez mais comum de facções criminosas na capital cearense. O aviso, pichado durante a noite, não deixa dúvidas sobre a gravidade da ameaça. O objetivo? Expulsar a família do imóvel, usando o medo como arma.
“Casos de ameaça a moradores, que chegam ao conhecimento das Forças de Segurança, são apurados e acompanhados pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE)”, informou a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) em nota oficial .
A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) assumiu a investigação. Por questões de segurança, a identidade do policial e de seus familiares não foi divulgada. O caso, porém, não é isolado.
Nos últimos anos, relatos de expulsão de moradores por facções se multiplicaram em Fortaleza. Segundo levantamento do jornal O POVO, entre novembro de 2017 e agosto de 2018, mais de 500 pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas por ordens semelhantes. Os motivos variam: transformar o imóvel em ponto de apoio para crimes, abrigar membros do grupo ou afastar agentes de segurança da área.
A dinâmica é quase sempre a mesma:
- Pichação com ameaça explícita no muro da residência
- Prazo curto para a saída, geralmente 24 horas
- Caso a ordem não seja cumprida, há risco real de violência
“A orientação é registrar um Boletim de Ocorrência (BO) imediatamente, seja presencialmente ou pela Delegacia Eletrônica”, reforça a SSPDS.
A Barra do Ceará, bairro onde ocorreu o caso mais recente, já foi palco de outras ações semelhantes. Em 2021, comunidades inteiras foram forçadas a deixar suas casas em bairros como Bom Jardim, Caça e Pesca, Conjunto Palmeiras, Dias Macedo, Vicente Pinzón e Cajazeiras.
A Polícia Civil do Ceará segue investigando o caso e reforça a importância da denúncia para combater esse tipo de crime. A família do policial, por enquanto, vive sob proteção e incerteza.