Dois ex-franqueados da Cacau Show na Região Metropolitana de Fortaleza afirmam ter perdido cerca de R$ 1 milhão após desviarem recursos em sociedade proposta por um funcionário da rede. O casal investiu R$ 240 mil em uma loja “smart” no início de 2023 e, devido ao bom desempenho, foi convidado a abrir uma segunda unidade em shopping local, em parceria informal com a esposa do colaborador.
Após identificar constantes baixas no caixa, os empresários descobriram que o funcionário desviava vendas. Comunicado o problema internamente, a Cacau Show demitiu o funcionário, mas exigiu que o casal arcasse com o rombo, sob argumento de que as duas franquias formavam um único grupo por compartilharem CPF. Com o bloqueio de ambas as lojas, um dos pontos foi repassado a outro franqueado e o casal teve de fechar a unidade no shopping.
Enquanto mantinham a primeira loja, os ex-franqueados relatam desabastecimento prolongado de produtos e envio de mercadorias vencendo, o que classificam como retaliação. Mesmo após anunciarem o encerramento da parceria em maio de 2024, só conseguiram rescindir o contrato em novembro, permanecendo obrigados a pagar royalties e taxa de publicidade, apesar de não receberem mercadorias.
Em outros estados, franqueados apontam práticas autoritárias e cobranças inesperadas. Relatos de “rituais” corporativos — com velas, cânticos e vestimentas brancas — teriam sido impostos a funcionários e franqueados como demonstração de alinhamento à cultura da empresa. A Associação União de Franqueados afirma que a “taxa do cacau” — cobrada para compensar alta no preço da matéria-prima — não consta em contrato, e ocorre de forma unilateral.
Na 25ª Vara Cível de Brasília, decisões judiciais já consideraram abusiva a retirada de crédito de franqueados que questionam a rede, classificando a medida como atentatória à liberdade profissional. Ainda há relatos de cláusula de arbitragem obrigatória em São Paulo, que dificulta ações judiciais convencionais e mantém disputas em sigilo.
“Nos sentimos enganados. Mesmo após sair, continuamos pagando taxas e não recebíamos produtos”, desabafa um dos ex-franqueados.
O que diz a Cacau Show
Em nota, a franqueadora afirma prezar por “respeito e ética” com parceiros, destacando que contratos são transparentes e contemplam taxas e políticas de rescisão sem multas após 12 meses de funcionamento. A empresa nega “taxa do cacau” e ressalta que reajustes se devem à variação do preço do cacau no mercado internacional.