O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou o humorista Marcelo Alves dos Santos por feminicídio, fraude processual e ocultação de cadáver, após ele confessar o assassinato de Raíssa Suelen Ferreira da Silva, de 23 anos, ocorrido no início de junho em Curitiba. O filho dele, Dhony de Assis, também foi denunciado por fraude processual e ocultação de cadáver, mas segue sendo investigado por possível participação direta no feminicídio.
Segundo a denúncia, Marcelo atraiu Raíssa até sua casa com a falsa promessa de uma oportunidade de emprego em São Paulo. Ao descobrir a mentira e recusar as investidas do suspeito, a jovem foi estrangulada com uma abraçadeira plástica, conhecida como “enforca gato”. O crime, de acordo com o MP, foi cometido por motivo torpe, com uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e em razão de sua condição de mulher. O promotor de Justiça André Tiago Pasternak Glitz destacou:
“O acusado Marcelo Alves dos Santos matou Raíssa por não se conformar com a negativa da vítima face a suas investidas e com o legítimo exercício de sua autonomia, praticando o crime por causa e em menosprezo à sua condição de mulher, após atraí-la à sua residência sob o pretexto de que havia conseguido para ela uma oportunidade de trabalho.”
Após o assassinato, Marcelo contou com a ajuda do filho para apagar vestígios do crime e ocultar o corpo de Raíssa, que foi encontrado em uma cova rasa em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, enrolado em uma lona azul. Imagens de câmeras de segurança e depoimentos indicam que pai e filho planejaram a ocultação do corpo, utilizando um carro emprestado para transportar a vítima. O desaparecimento de Raíssa foi registrado no dia 2 de junho, e o corpo foi localizado no dia 9, após Marcelo levar a polícia até o local.
A investigação detalhou a linha do tempo do crime: no dia 2 de junho, Marcelo buscou Raíssa em casa, sob o pretexto de uma viagem para São Paulo. Câmeras de segurança registraram a chegada dos dois à casa do humorista às 12h02. Dhony chegou ao local às 14h15. Por volta das 15h, pai e filho saíram para descartar pertences da vítima. Às 17h40, o carro foi manobrado de ré na garagem, e às 18h05, ambos saíram para ocultar o corpo em Araucária, retornando cerca de 30 minutos depois. Segundo a polícia, o tempo gasto sugere que já havia um plano para esconder o corpo. O veículo utilizado foi emprestado por um amigo de Marcelo, a pedido de Dhony, que alegou precisar transportar um armário.
O laudo preliminar do IML apontou que Raíssa pode ter sido dopada antes de ser morta, mas a causa da morte foi confirmada como asfixia mecânica. A ex-esposa de Dhony relatou à polícia que, após o crime, notou o sumiço de cobertas e que Marcelo tinha comportamento agressivo em casa.
Raíssa era natural de Paulo Afonso, na Bahia, e havia se mudado para Curitiba há cerca de três anos, incentivada por Marcelo, que conhecia desde a infância. Ela sonhava em ser modelo e atriz e chegou a ser Miss Serra Branca Teen em 2020. Amigos e familiares relataram que Raíssa via Marcelo como uma figura paterna e confiava nele.
O MP-PR também solicitou à Justiça a fixação de uma indenização mínima de R$ 400 mil à família de Raíssa, como reparação dos danos morais e materiais, considerando a idade da vítima e sua atividade profissional.
“No que atine ao dano material, requer-se, em caso de condenação, a fixação de valor mínimo equivalente a R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), considerando a idade da vítima e o exercício de atividade profissional (tomando por base o valor do salário-mínimo em 2025)”, escreveu o promotor.
A defesa de Dhony pediu o relaxamento de sua prisão, alegando que ele não foi denunciado por feminicídio. O advogado criminalista Caio Percival, que representa Dhony, afirmou:
“Ele não foi denunciado pelo crime de feminicídio, o que representa, na avaliação de sua defesa, um reconhecimento claro de que não participou do homicídio. […] O Ministério Público optou por não denunciar Dhony pelo crime de feminicídio, e isso muda totalmente o cenário. A prisão foi decretada em um contexto investigativo de homicídio qualificado, mas agora a própria acusação afasta essa hipótese. Portanto, não se justifica mais manter Dhony preso temporariamente por algo que o próprio MP já descartou formalmente.”
“Dhony não teve intenção de ocultar crime algum e tampouco participou de qualquer plano. Mas é fato: ele não matou, não participou da morte e não pode continuar preso como se tivesse.”
A defesa da família de Raíssa, representada pelos advogados Carina Moraes e Leonardo Mestre Negri, declarou em nota:
“As investigações seguem em andamento quanto à real participação de Dhony no feminicídio. A defesa da vítima acompanha de forma técnica e vigilante cada etapa do processo, confiando na atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário, considerando a gravidade do crime que resulta na maior pena prevista no Direito Penal Brasileiro.”
Atualmente, Marcelo Alves dos Santos segue preso preventivamente, e as investigações sobre a participação de Dhony no feminicídio continuam em andamento. O caso segue gerando grande repercussão e comoção social, especialmente pela brutalidade do crime e pela relação de confiança entre vítima e agressor.