Sabe aqueles momentos que parecem tirados de um roteiro de cinema? Pois foi exatamente isso que aconteceu na noite de domingo (27), na Arena Fonte Nova. O torcedor tricolor viveu emoções intensas ao ver Lucho Rodríguez, finalmente, reencontrar o caminho do gol após uma das maiores secas da carreira. O uruguaio, que não marcava há 24 partidas, foi às redes no último lance do jogo, sacramentando a vitória por 3 a 0 sobre o Juventude e colocando o Bahia novamente entre os quatro primeiros do Brasileirão.
Quando a bola balançou o fundo das redes, aos 47 minutos do segundo tempo, dava pra ver o alívio estampado no rosto do jovem de 21 anos. Não era só mais um gol — era o fim de um longo e difícil capítulo que se arrastava desde março, quando ele havia deixado sua última marca, justamente contra o Ceará. A Fonte Nova virou uma festa só: alegria pelo momento individual do atacante, euforia pela volta do Bahia ao grupo de elite que briga por uma vaga na Libertadores de 2026.
Jean Lucas rouba a cena antes da redenção
Mas, antes da história de superação de Lucho ganhar os holofotes, outro nome já brilhava forte no gramado. Jean Lucas foi simplesmente decisivo, marcando dois gols e comandando o time de Rogério Ceni. O primeiro veio aos 26 minutos do primeiro tempo, após grande jogada de Ademir, que desmontou a defesa do Juventude e deixou Jean Lucas livre para finalizar. O segundo saiu no início da etapa final, aos 12 minutos: após um chute de Everton Ribeiro, a bola desviou e sobrou limpa para o camisa 6, que não desperdiçou.
Com essa atuação de gala, Jean Lucas não só anotou sua primeira dobradinha como profissional, mas também se consolidou como peça-chave desse Bahia que encanta cada vez mais a torcida.
O peso de um investimento histórico
Para entender o quanto o gol de Lucho significou, é preciso lembrar da enorme expectativa que cercou sua chegada ao Bahia. Em julho de 2024, o clube desembolsou a maior quantia da história do futebol nordestino: 12 milhões de dólares (cerca de R$ 65 milhões) para tirá-lo do Liverpool de Montevidéu. Não à toa, a pressão veio junto: Lucho era campeão mundial sub-20 e herói do título do Uruguai contra a Itália, além de se destacar atuando pela ponta direita — sua posição de origem.
Só que adaptação é um processo, e, no futebol brasileiro, as coisas não caminharam tão rápido. Rogério Ceni passou a escalá-lo como centroavante. Lucho não reclamou, mas sentia falta de jogar no seu habitat natural. Chegou a dizer à imprensa uruguaia que gostaria de voltar à ponta, onde se sente mais à vontade.
Superando a fase ruim, um jogo de cada vez
Os números do jejum explicam a pressão: em 24 jogos, apenas um gol, lá atrás, contra o Ceará. Nesse período, Lucho alternou entre titularidade e banco, sempre buscando retomar a confiança. O incômodo era tanto que o atacante até mudou de número de camisa: deixou a 9 de lado e voltou à 17, na esperança de afastar a má fase. Coisa de quem não desiste fácil.
A seca não era só dele, era do time. O Bahia precisava de seus atacantes em grande forma para sonhar alto na temporada.
Ceni apostou, Lucho correspondeu
Mesmo com tudo isso, Rogério Ceni não perdeu a fé. Sempre defendeu o atacante publicamente, pediu paciência à torcida e fez questão de lembrar: “É só um garoto”, como já disse algumas vezes. O treinador também testou o uruguaio em diferentes posições, mostrando flexibilidade e, mais do que isso, confiança no potencial do jogador.
Essa insistência — e esse cuidado — fizeram diferença. E quando o tão esperado gol saiu, ficou claro que todo o esforço valeu a pena.
Explosão na Fonte Nova e futuro promissor
O gol de Lucho foi daqueles que a torcida sente na pele. Mais de 32 mil pessoas vibraram juntas, celebrando não só a vitória e a entrada do Bahia no G4, mas também o fim de um capítulo de angústia para o uruguaio. “Foi muito difícil. O atacante vive de gols e eu queria muito ajudar o time. Mas hoje, com o apoio da torcida, fiquei muito feliz”, desabafou Lucho, ainda emocionado, depois da partida.
Com os três pontos, o Bahia chegou aos 28 e ocupa agora a quarta posição, mesmo com dois jogos a menos que alguns concorrentes. Não é só a tabela: é um projeto ambicioso ganhando forma, com o time se firmando entre os grandes do futebol brasileiro.
Agora, a missão é manter o ritmo — e a confiança — já nesta quarta-feira (30), contra o Retrô-PE, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, de novo na Fonte Nova. Para Lucho, fica a esperança de que o gol contra o Juventude seja apenas o começo de uma nova fase, muito mais feliz, no futebol brasileiro.
A noite de domingo mostrou o que todo torcedor já sabe: no futebol, como na vida, quem persiste sempre acaba recompensado. Lucho Rodríguez foi o retrato dessa lição. Sua redenção virou combustível para um Bahia que não cansa de sonhar.