Não é por acaso que o Peru é o penúltimo colocado das Eliminatórias. Time fraco, desleal, com um treinador que só teve espasmos de coragem depois que perdia por dois gols. O placar de 3 a 0 foi modesto. Foi o adversário ideal para o Brasil de Dunga fechar o ano. Dar a falsa impressão que está tudo bem. Não está. Willian, Douglas Costa e Renato Augusto foram os principais jogadores de uma equipe ainda sem fluência, intensidade, convicção.
Terminou o ano em terceiro das Eliminatórias. Atrás do Equador e do Uruguai, com sete pontos em 12 possíveis…
A goleada passa a falsa impressão da redescoberta do bom futebol. Houve alguns acertos. Como a liberdade para Douglas Costa, apesar de canhoto, atuar na direita. Autorizar Willian a apostar nos dribles, abandonar a burocrática função de correr atrás de lateral. E o entrosamento de Renato Augusto e Elias no meio de campo. Os fizeram como no Corinthians. Alternaram na marcação e no ataque. Defender ficou mais fácil do que com Lucas Lima.

O treinador deixou Neymar adiantado no esquema 4-1-4-1, que deseja fixar na Selção. Ele deveria ser a referência nos ataques, nos contragolpes. O que acabou liberando Willian e Douglas Costa para ficarem trocando de posição, de lados para explorar. Com Renato Augusto no time, Elias teve muito mais coragem para ajudar o ataque.
Tudo muito bonito. O fato de ter o Peru como sparring tornou as decisões de Dunga 'geniais'.
Gareca foi covarde demais.

O técnico argentino distribuiu seus jogadores em duas linhas de quatro. E vivia de contragolpes montados à base de chutões na direção de Guerrero. O time vivia apostava em uma bola. Um cruzamento. Uma falha dos defensores brasileiros. Tudo isso era lastimavelmente pouco.
Apesar da facilidade, o Brasil se mostrava inseguro na troca de posição, ao atacar em bloco. Neymar seguia individualista demais sabotando vários contragolpes. Faltava coordenação ao time para tentar pressionar a saída de bola adversária. Daniel Alves era um ponta direita estabanado, roubando espaço de Willian. Dunga demorou para enxergar. Em compensação, Filipe Luís apoiava menos do que o necessário.

O gol deu mais confiança ao time e fez os torcedores trocarem o princípio de vaia por aplausos, euforia. A CBF acertou ao levar os jogos da Seleção no Nordeste.
O time passou a tocar melhor a bola. Mas tinha grandes problemas de finalização. Neymar voltava a se mostrar individualista e pouco produziu. Tomou pontapés em excesso. O Peru não desmontava suas duas linhas de quatro. E só vivia de bolas esticadas. Seu meio de campo não existia.
Aos 38 minutos, Douglas Costa cobrou falta na trave. E foi o último lance efetivo do ataque brasileiro no primeiro tempo.
No segundo, o cenário não mudou. Na única bola esticada que deu certo para o Peru, quase o empate. Cueva acertou uma fotogênica puxada e obrigou Alisson à ótima defesa, aos nove minutos.
Mas aos 12, o Brasil sacramentava sua vitória. Douglas Costa passa por três marcadores e entrega bola para Renato Augusto. O corintiano toca com muita qualidade, no contrapé do goleiro Penny. 2 a 0. Emocionado, chorou de emoção. Lembrou de todas as contusões, a dificuldade de voltar a jogar futebol de forma constante, que desse confiança a Dunga para convocá-lo. Foi emocionante.
O estádio todo respirava aliviado. Só assim, perdendo, é que Gareca abriu o Peru. Colocou o time no ataque. Deu mais espaço para o Brasil, que criou nova chances de ampliar. Até que a bola caiu para Douglas Costa na meia direita. Ele deu um chute muito forte. Penny rebateu nos pés de Filipe Luís. 3 a 0.
A torcida baiana comemorava empolgada junto com Dunga.
A festa foi por três gols, vitória convincente no placar.
Mas que deixou muito a desejar taticamente.
Dunga precisa trabalhar com afinco em 2016.
O Brasil já ganhou e venceu o último e o penúltimo das Eliminatórias.
Precisa se descobrir como time.
Para não sofrer depois…
Veja os gols: