No Dia Nacional do Futebol, celebrado neste sábado (19), o cenário do futebol feminino na Bahia apresenta um panorama de avanço gradual, apesar dos desafios persistentes relacionados à estrutura e visibilidade. A modalidade, que tem conquistado cada vez mais espaço no país, busca consolidar a formação de atletas e a sustentabilidade das equipes no estado.
Crescimento e Estrutura
Apesar da notável paixão brasileira pelo futebol, a estrutura do esporte feminino no Nordeste ainda se mostra aquém da realidade vista na região Sudeste. Segundo
Leon Ferreira, avaliador de atletas e ex-treinador de times femininos como Bahia, Galícia e Lusaca, “A diferença está realmente muito grande. Lá já tem, além do Campeonato Paulista, a Copa Paulista, tem todas as bases. Os clubes são quase todos profissionais. Aqui, a gente tem três clubes que pagam apenas as atletas, e nos outros clubes as meninas jogam por amor.”
No entanto, o progresso é perceptível. O estado da Bahia, por exemplo, terá campeonatos baianos de futebol feminino nas categorias de base, incluindo sub-15, sub-17 e sub-20. Clubes como Boca Juniors (com escolinha na Bahia) e o Esporte Clube Vitória já possuem divisões de base femininas, indicando uma tendência de expansão.
Incentivos e Visibilidade
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) desempenha um papel importante nesse movimento. Desde 2019, clubes da Série A do Brasileirão masculino são obrigados a manter equipes femininas. Há também uma proposta para estender essa obrigatoriedade às Séries B, C e D até 2027, ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol Feminino pela primeira vez.
O aumento de competições oficiais e a busca por talentos também marcam o desenvolvimento da modalidade. No calendário da Federação Baiana de Futebol (FBF), destacam-se o Baianão Feminino e o Baianão Feminino Sub-17. Iniciativas como a Copa Loreta Valadares, que terá sua quarta edição em 2025, são cruciais para a base.
Juliana Camões, coordenadora do Núcleo Mais Mulheres no Esporte da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), explicou que a Copa Loreta Valadares “iniciou através de uma iniciativa mobilização de mulheres pioneiras (…) e ela veio tomando o corpo diante de suas edições.”
A competição oferece suporte como uniformes e equipamentos, visando estimular jovens atletas e prevenir o abandono precoce do esporte.
A visibilidade se mostra fundamental. Leon Ferreira, que há 15 anos administra a página @futebolfemininodabahia nas redes sociais com mais de 12 mil seguidores, trabalha na divulgação de eventos e talentos.
“Acho que é fundamental para se dar visibilidade, para se proporcionar o caminho, mais uma vez, da revelação dos talentos do futebol feminino no estado da Bahia”, afirma Juliana Camões.
O público nos estádios também tem crescido, impulsionado pela expectativa da Copa do Mundo de 2027.
Sonhos e Obstáculos
A trajetória de atletas como Milena Oliveira, jogadora do Doce Mel, ilustra tanto o potencial quanto as dificuldades. Considerada a craque da Série A3 do Brasileirão Feminino, Milena enfrentou limitações na base e falta de visibilidade em sua jornada. Ela destaca o papel de clubes como o Vitória e o Doce Mel na revelação de atletas.
“O Vitória dá muita oportunidade ao meu ver, nas categorias de base, porque eles realmente estão disputando o Brasileiro Sub-17. Eles fazem peneiras, fazem testes, então eu acho que eles dão bastante oportunidade”, disse a atleta.
Contudo, Milena ressalta a importância do investimento:
“O Doce Mel agora, provavelmente, não vai participar do estadual justamente por conta da falta de investimentos.”
Isso reflete uma realidade comum a muitos clubes baianos, onde o esforço individual e de poucos apoiadores ainda é predominante.
Apesar dos entraves, a paixão pelo futebol feminino continua impulsionando a categoria, com esforços conjuntos de federações, clubes e indivíduos para fortalecer a modalidade e garantir que mais talentos baianos possam alcançar o patamar profissional no esporte.