A magia do clássico “Sítio do Picapau Amarelo” ganha uma nova vida em Salvador. O projeto “Sítio Encantado e a Pilula Mágica” estreia neste sábado (10) com algo especial: um elenco formado apenas por artistas negros da cidade. Dirigida por Magno Ferreira, a peça não apenas revisita a obra de Monteiro Lobato, mas também propõe uma conversa sobre quem vemos nos palcos.
Uma Visão Inclusiva para Novas Gerações
Magno Ferreira, o diretor, carrega consigo a paixão pela obra desde criança. Ele quis juntar essa nostalgia da juventude com uma versão mais atual. “Eu queria trazer um pouco da minha infância para os dias atuais, mas do meu jeito”, ele fala sobre sua motivação. O diretor destaca a importância de as crianças, especialmente as negras, se verem nos personagens. “Meus sobrinhos assistem muito e adoram o sítio e eu queria transformar em algo com representatividade para eles, para eles se identificarem”, ele conta.
O Elenco que Traz a Mudança
Ter um elenco só com talentos negros locais é uma resposta clara à falta de representação no teatro infantil brasileiro. Magno Ferreira está muito feliz com a equipe. “A peça está perfeita, meus atores são tudo para mim, são maravilhosos”, ele afirma com entusiasmo.
Anna Roberta Pires, que dá vida à Narizinho, pensa muito sobre o que significa essa representatividade para as crianças. Para ela, “Sítio Encantado e a Pilula Mágica” vai além de ser só uma peça. Ela vê a missão de mostrar para os pequenos que eles podem, sim, estar no palco, ocupando papéis importantes.
“As expectativas em relação à estreia são muito altas”, fala Anna Roberta. Ela sente muita alegria em mostrar essa nova perspectiva, mas também se preocupa com como o público vai receber. “É muito difícil ver personas pretas, um elenco preto, falando sobre como é ser preto para aumentar a autoestima de outros pretos”, ela explica. Ela percebe que a peça faz ainda mais sentido hoje, pois muitas crianças agora se veem em histórias que antes pareciam não ser para elas.
Anna Roberta lembra como era sua infância. Ela não via personagens parecidos com ela, com o cabelo black ou a cor de pele. “Eu não via pessoas como eu […] ocupando o protagonismo. Isso me fazia questionar como seria uma infância preta”, ela conta. Por isso, estar na peça parece uma grande transformação para ela. “Espero que as crianças que assistirem à peça possam se reencontrar nesse lugar, entender que elas podem ser o que quiserem”, ela diz emocionada.
Os Desafios e as Lições dos Personagens
Cada ator tem sua própria visão do trabalho. Junior Valle, que interpreta o Visconde, conta que o maior desafio foi criar o personagem. “O Visconde é um boneco de milho, então o desafio é como trazer esse boneco para o corpo do ator”, ele explica.
Junior Valle vê o Visconde como alguém que ensina, focado em levar educação e desenvolvimento para o público jovem. “A voracidade do Visconde pela literatura, pela busca do conhecimento, é o que mais me fascina nele”, ele fala sobre o personagem.
Quer assistir? A peça fica em cartaz nos dias 10 e 11 de maio. Você pode ir ao Espaço Cultural da Barroquinha. No sábado, a sessão começa às 17h. No domingo, tem apresentações às 15h e às 17h.