A capital baiana marca um avanço significativo na preservação de sua rica herança cultural com a inauguração da primeira escola dedicada ao Samba Junino. O novo espaço, sob a gestão do Instituto Cultural e Carnavalesco MUCUM’G, será aberto ao público nesta terça-feira, 17 de dezembro, às 16h, na Rua Padre Domingos de Brito, 4 D, no bairro do Garcia. A iniciativa visa promover a formação, inclusão social e a difusão dessa arte tão peculiar, oferecendo cursos gratuitos.
Formação e Tradição Cultural
A programação da escola inclui oficinas gratuitas de percussão, canto, violão e expressão corporal, focadas nas particularidades do Samba Junino. Este fazer artístico, que tem suas raízes no samba de roda e se consolidou como uma das mais vibrantes tradições juninas de Salvador, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural da cidade em 2018. Sua relevância é tão notável que se tornou objeto de estudos acadêmicos na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
“A Bahia — com sua singularidade rítmica, estética e simbólica — inspira a missão do Instituto MUCUM’G: preservar, inovar e difundir as tradições culturais de matriz africana. (…) O Instituto constrói pontes entre passado e futuro, território e identidade”, declarou Nonato Sanskey, fundador do MUCUM’G.
O professor Gustavo Melo, da UFBA e mestre em Etnomusiologia, em entrevista concedida em maio, explicou que o Samba Junino possui grande proximidade com ritmos como o Cabila, presente em terreiros, e o samba duro, evidenciando sua ancestralidade.
Diferenciação e Preservação
A delimitação e salvaguarda do Samba Junino são pontos cruciais para sua continuidade. Vagner Shrek, gerente de projetos da Liga de Samba Junino, entidade criada em 2011, defende a importância de caracterizar a arte para garantir sua sobrevivência. Ele destaca as particularidades do estilo:
“O samba junino não é qualquer grupo de samba que se manifesta no período junino. Ele tem características próprias do segmento, a utilização do timbal, do tamborim, do surdo, é a característica do instrumento. A questão das indumentárias, o samba junino geralmente ele traz temas para a rua.”
Atualmente, a manifestação artística é praticada em 21 dos 171 bairros de Salvador. Jorge Bafafé, um dos idealizadores do Festival de Samba Duro Junino do Engenho Velho de Brotas — que celebrará 47 anos em 2025 —, junto ao seu irmão Mário Sacramento, reafirmou a necessidade de diferenciar o Samba Junino dos outros sambas realizados em junho, ressaltando o caráter de resistência cultural afro-brasileira do evento.
Projeção Futura
Com a criação da 1ª Escola de Samba Duro Junino de Salvador, o Instituto MUCUM’G solidifica seu papel como “agente transformador e um centro de valorização da cultura baiana”. Além das atividades de formação, a instituição planeja dar continuidade a eventos como encontros, seminários e ações de mobilização, visando fomentar o diálogo, a conscientização e a participação da sociedade civil na valorização e difusão dessa expressão cultural singular da Bahia.