O que era para ser um domingo de música, encontros e alegria virou frustração para milhares de baianos. Nesta quarta-feira (13), a Salvador Produções anunciou o cancelamento do Salvador Fest 2025, que aconteceria no dia 14 de setembro, no Wet Eventos.
Custos nas alturas inviabilizam o evento
O cancelamento não foi surpresa para quem acompanha de perto o mercado. A produtora citou como principais motivos a disparada dos preços de estrutura e logística, o encarecimento das passagens aéreas, a instabilidade econômica e a dificuldade para fechar patrocínios.
Em nota, a empresa foi direta:
“No cenário atual, não seria possível manter o padrão de entrega e qualidade que consideramos justo para vocês.”
E o problema não é exclusivo de Salvador. Segundo o Mapa dos Festivais, até agosto de 2024, 31 festivais no Brasil precisaram mudar de data. Entre eles, 14 foram cancelados e 15 adiados. Nos Estados Unidos, o número é ainda mais impressionante: mais de 40 cancelamentos só neste ano.
Fãs sem festa e sem previsão de reembolso
Para quem já tinha garantido o ingresso, a decepção veio acompanhada de incerteza. O reembolso será automático para compras online e via Pix ou cartão em pontos físicos. Já quem comprou em dinheiro precisa voltar ao local da compra com os ingressos originais.
Os pagamentos começam a ser devolvidos em até três dias úteis, mas quem não receber automaticamente terá 30 dias para solicitar.
A professora Maria Santos, 34 anos, sintetiza o sentimento de muitos:
“Já estava tudo planejado: look, carona, roteiro do dia… Agora é esperar o dinheiro voltar. Com a economia como está, cada real conta.”
Artistas e economia local também sentem o impacto
O line-up deste ano estava recheado: Wesley Safadão, Léo Santana, Matuê, Parangolé, Pablo, Xanddy Harmonia, entre outros. Todos perderam uma chance importante de se apresentar para o público baiano.
E não é um caso isolado. Turnês de nomes como Jão, Ivete Sangalo e Ludmilla também foram interrompidas recentemente pelo mesmo motivo: custos altos e queda na procura.
O prejuízo vai além da música. Eventos desse porte movimentam mais de 30 setores da economia. Hotéis, restaurantes, comércio, transporte e turismo deixam de faturar milhões.
Para se ter ideia, o Carnaval de 2025 deve injetar R$ 1,8 bilhão na economia de Salvador, enquanto o Festival Virada 2025 já garantiu R$ 400 milhões.
Um mercado sob pressão
O Salvador Fest é só a ponta de um iceberg que ameaça principalmente os festivais independentes. A inflação global, os custos de produção e a concorrência acirrada no Brasil — que viu um crescimento de 138% no número de festivais de 2022 para 2023 — estão criando um cenário insustentável.
Segundo a presidente da ABRAFIN, Sara Loiola, a dificuldade de captar patrocínios é um dos grandes gargalos:
“O mercado de patrocínios ainda não voltou ao nível pré-pandemia. Isso impacta diretamente todo o ecossistema musical.”
O que fazer em Salvador em agosto
Para quem ficou sem o Salvador Fest, a cidade ainda tem programação de peso:
- 10 Horas de Arrocha – 16 de agosto, Wet Eventos
- Zeca Pagodinho – 40 anos – 23 de agosto, Armazém Convention
- Jorge & Mateus – 20 anos – 23 de agosto, Parque dos Ventos
- Ney Matogrosso – Bloco na Rua – 29 de agosto, Concha Acústica
Além disso, exposições como Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira e Bancos Indígenas do Brasil: Rituais garantem opções gratuitas para quem busca cultura.
O futuro do festival
A expectativa é que a Salvador Produções reorganize suas finanças e retome o evento em um cenário mais favorável.
“Esperamos nos reencontrar em breve, com todas as condições necessárias para oferecer a experiência que vocês merecem”, disse a empresa.
Enquanto isso, fãs e artistas torcem para que o Salvador Fest volte com força total, mantendo a tradição de reunir “todas as tribos em um só lugar” e celebrando a diversidade musical que é marca registrada da Bahia.