Salvador voltou ao centro da conversa sobre por que às vezes fica de fora de grandes turnês internacionais. De um lado, há sinais claros de crescimento na aviação; do outro, preocupações sobre infraestrutura, demanda e custos que ainda pesam na decisão de trazer grandes shows.
Voos em alta, mas nem tudo é simples
Dados da Anac mostram que o Aeroporto Internacional de Salvador Luís Eduardo Magalhães movimentou 266,7 mil passageiros internacionais no primeiro semestre de 2025 — o que colocou o terminal na liderança entre Norte e Nordeste. A operadora VINCI Airports também destacou a expansão de rotas:
“Desenvolvemos um trabalho consistente de prospecção de rotas estratégicas que garantiram o crescimento dos voos internacionais partindo e chegando na capital baiana e estes resultados reforçam a importância da Bahia para a conectividade na região Nordeste”, disse Julio Ribas, CEO da VINCI Airports no Brasil.
Mas números bons não apagam desafios práticos. Promotores e gestores locais lembram que nível de conectividade, logística e preço dos ingressos fazem toda a diferença na hora de fechar uma turnê.
O que preocupa produtores e gestores
O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, resumiu a situação: a malha aérea do Brasil segue complexa e cara, e quando se junta isso com volume de demanda e preço do ticket, o cenário fica difícil para atrair grandes artistas.
“Infelizmente, o Brasil e Salvador, sobretudo Salvador, tem um contexto de uma malha aeroviária ainda complexo do Brasil. E cara, sobretudo quando a gente fala em infraestrutura geograficamente. A gente também tem alguns problemas quando se fala em demandas internacionais e diante do volume e o ticket também, então quando a gente junta tudo isso, fica complicado”, disse Isaac Edington.
Além disso, um sinal recente acendeu alertas: a Air France anunciou suspensão temporária dos voos entre Salvador (SSA) e Paris (CDG) entre 9 de março e 25 de abril de 2026, justificando ajuste de capacidade na baixa temporada — mesmo com boa ocupação, segundo a Saltur: 93% no trecho Salvador–Paris e 78% no sentido inverso.
Decisão de turnês: rotas, demanda e preço
Promotores internacionais avaliam rotas, demanda e custo antes de incluir uma cidade no roteiro. Por isso, a ausência de Salvador em programas recentes, como a lista de cidades dos ‘Ensaios da Anitta’, gerou preocupações sobre a percepção do mercado interno — ainda que artistas de porte mundial já tenham tocado na cidade, como Paul McCartney, Beyoncé e Maroon 5, além de eventos consolidados como o Festival de Verão.
Gestores locais também ressaltam o papel do turismo e do entretenimento na economia: pesquisas da Fecomércio e de mais de 50 setores mostram que eventos geram movimento relevante para serviços e comércio. E, como lembra Edington, a iniciativa privada costuma liderar a atração de eventos internacionais, com o poder público atuando mais como facilitador:
“Eventos internacionais têm uma complexidade um pouco diferente. O evento internacional nunca vai surgir de uma iniciativa do poder público… o poder público pode ser um facilitador, como no caso de Salvador”, disse Isaac Edington.
Potencial que já existe
Salvador não precisa provar capacidade: foi a primeira capital do país, recebeu o título de Cidade da Música pela UNESCO e tem recorde no Guinness Book pelo Maior Carnaval de Trio Elétrico do Mundo. Carnaval e o Festival da Virada são exemplos claros de que a cidade consegue organizar grandes eventos em espaço público — estima-se que mais de 16 milhões de pessoas passem pelos circuitos carnavalescos.
O caminho à frente
Com expectativa de aumento na malha internacional para 2026, gestores e aeroportos acompanham as flutuações na oferta de voos. A suspensão temporária da Air France foi tratada como um alerta pontual, não como sentença final. Ainda assim, fica a pergunta: como transformar o potencial em rotina para grandes turnês?
Gestores apontam que a resposta passa por integração entre iniciativa privada e apoio público, com ações como:
- alinhamento logístico entre promotores e aeroportos;
- iniciativas comerciais para reduzir custos e aumentar demanda;
- promoção internacional consistente da cidade como destino de turnês.
Em resumo: Salvador mostra sinais claros de crescimento na conectividade, tem história e capacidade para grandes eventos, mas precisa que atores públicos e privados trabalhem juntos para transformar esses sinais em presença constante nas grandes turnês internacionais.