A turnê de despedida “A Última Ponta” do Planet Hemp vai começar por Salvador, na Bahia. O primeiro show está marcado para o dia 13 de setembro, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), no Campo Grande. A produção do evento é uma parceria entre a 30e e a Multi Entretenimento.
Os ingressos para a apresentação na capital baiana já estão à venda. No primeiro lote, o valor da inteira é de R$ 185 e a meia-entrada custa R$ 92,50. A compra pode ser feita tanto pelo site Sympla quanto na bilheteria do Teatro Castro Alves (TCA).
A Trajetória e o Legado
Hoje, a banda Planet Hemp é formada por Marcelo D2 (vocal), BNegão (vocal), Formigão (baixo), Nobru (guitarra), Pedro Garcia (bateria) e Daniel Ganjaman (guitarra e teclados). O som do grupo é uma mistura marcante de rap, rock’n roll, psicodelia, hardcore e ragga, com toques da música brasileira. Essa fusão criou uma identidade única que não só influenciou a música nacional, mas também se tornou uma voz forte na defesa da legalização da maconha, desafiando as visões mais conservadoras no Brasil.
“Fizemos um belo trabalho nesses 30 anos de carreira, mas tudo tem um final. O Planet Hemp tem uma energia muito forte que não queremos que se apague”, declarou Marcelo D2. “Já namoramos essa ideia há pelo menos dois anos, mas a parceria com a 30e foi crucial para podermos realizar esta turnê. Vamos aproveitar esses últimos momentos juntos, na estrada, como banda, e nos conectarmos mais uma vez com essa galera que está nos apoiando desde o início.”
O grupo nasceu em 1993, no bairro do Catete, Rio de Janeiro, pelas mãos de Marcelo D2, Skunk, Rafael, Formigão e Bacalhau. Mais tarde, BNegão e Black Alien também entraram para a banda. A ideia inicial, com Marcelo D2 e Skunk, surgiu da afinidade musical entre os dois, que se conheceram em 1992, quando D2 vendia camisetas e vinis. Antes mesmo de lançar o primeiro álbum, a banda já agitava a cena underground com shows em casas alternativas.
Impacto Social e Reconhecimento
No ano de 1994, a trajetória de Skunk foi tristemente interrompida por sua morte, aos 27 anos. Com isso, BNegão, que já era próximo do grupo, assumiu os vocais. Ele destaca a singularidade da banda: “O Planet tem essa coisa singular de ser uma banda underground que habita o mainstream de forma convicta, e isso vai ser levado às últimas consequências nessa tour.”
O álbum de estreia, “Usuário” (1995), logo se tornou um marco. Com letras diretas e batidas intensas, faixas como “Legalize Já”, “Dig Dig Dig (Hempa)” e “Mantenha o Respeito” abordaram temas espinhosos para a época. Entre eles, a descriminalização da maconha, a crítica contundente à guerra às drogas e o repúdio ao autoritarismo policial. O discurso irônico e subversivo do Planet Hemp garantiu seu espaço e respeito na cena musical, sempre levantando bandeiras importantes como a liberdade de expressão e a denúncia da violência policial e da degradação ambiental.
“O Planet Hemp surgiu com menos de 10 anos após a Ditadura Militar. Se falava muito do que se podia e não. Fomos vanguarda ao falar da legalização das drogas, mais que a questão medicinal, abordamos o prejuízo social que a ilegalidade traz. Puxamos conversas que foram necessárias para a sociedade, levantando assuntos que nem podiam se falar nos anos 1990”, afirmou Marcelo D2.
Em 1997, a banda enfrentou um momento crítico: foram detidos após um show em Brasília, sob acusação de “apologia às drogas”. O episódio causou grande repercussão, unindo artistas e intelectuais em defesa do grupo. Essa situação transformou o Planet Hemp em um forte símbolo de resistência cultural e liberdade de expressão no Brasil pós-ditadura.
Discografia e Prêmios
A discografia do Planet Hemp é recheada de álbuns impactantes. Entre eles: “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” (1997), lançado logo após a prisão do grupo; “A Invasão do Sagaz Homem Fumaça” (2000), que trouxe um som mais experimental; e “JARDINEIROS” (2022), que marcou o grande retorno da banda com um som atual e a mesma pegada política. Este último, inclusive, foi destaque no Grammy Latino de 2023, levando dois prêmios: “Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa” e “Melhor Interpretação Urbana em Língua Portuguesa”, pela faixa “DISTOPIA”, em parceria com Criolo.
Com letras combativas e shows cheios de energia, o Planet Hemp se consolidou como uma das principais vozes da contracultura brasileira. A banda não só influenciou a música, mas também impulsionou importantes debates políticos e sociais. Seu legado atravessa gerações e segue desafiando normas. Agora, a turnê “A Última Ponta” marca o encerramento dessa marcante trajetória, que inclui ainda uma apresentação no Allianz Parque.
Recentemente, o grupo lançou o registro audiovisual “BASEADO EM FATOS REAIS: 30 ANOS DE FUMAÇA (AO VIVO)”, gravado em São Paulo. O DVD conta com participações de Pitty, BaianaSystem, Major RD, Rodrigo Lima e Tropkillaz. Marcelo D2 fez questão de adiantar o que os fãs podem esperar da turnê de despedida:
“O show que fizemos para a gravação do DVD dá uma boa dica do que os fãs podem esperar desta turnê. Teremos mais tempo de palco, tocando algumas músicas que não tinham entrado no repertório e, claro, com convidados que passaram pela história do Planet.”