Paulo Afonso, 20/07/2025 – O Brasil se despede de uma de suas vozes mais autênticas e corajosas. A cantora Preta Gil morreu aos 50 anos, na noite deste domingo (20), enquanto realizava um tratamento contra um câncer de intestino em Nova York, nos Estados Unidos. A notícia encerra uma jornada de quase dois anos, na qual a artista enfrentou a doença de forma pública, com uma força que inspirou o país.
A confirmação do falecimento foi feita pela equipe da cantora. Filha do ícone da música baiana e brasileira Gilberto Gil, Preta buscava uma última esperança em um tratamento experimental, com medicamentos ainda em fase final de testes, após as opções terapêuticas no Brasil terem se esgotado.
O diagnóstico que mudou tudo
A batalha de Preta Gil começou em janeiro de 2023. Sinais que poderiam passar despercebidos, como fezes com sangue e muco e dores abdominais fortes, a levaram a procurar ajuda médica. “Quando fazia as fezes, era com sangue, com muco, tinha um formato diferente. E achava normal”, relatou ela em uma entrevista ao programa Mais Você.
O que parecia um simples desconforto intestinal revelou-se um adenocarcinoma, um tumor maligno na parte final do intestino. A partir daí, a vida da artista se transformou em uma rotina de tratamentos intensos, incluindo sessões de quimioterapia, radioterapia e cirurgias de alta complexidade.
Momentos críticos e uma lição de vida
Durante o tratamento, Preta enfrentou complicações severas. Em abril de 2023, um dos momentos mais difíceis: uma sepse, infecção generalizada, a levou para a UTI com risco de morte. “Eu tinha acabado de voltar da septicemia, estava com risco 8 de morte ainda, na UTI. Minha pressão batia 23”, relembrou a cantora.
Foi nesse período delicado que seu pai, Gilberto Gil, lhe deu um conselho que, segundo ela, mudou sua perspectiva sobre a vida. “Se estiver sendo muito difícil pra você e se for sua hora, aceite”, disse o músico, em uma conversa que a própria Preta descreveu como transformadora.
A esperança e o retorno da doença
Em agosto de 2023, uma luz de esperança surgiu. Após uma cirurgia de 14 horas no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Preta comemorou estar livre das células cancerígenas. O procedimento complexo envolveu a remoção do tumor, do útero, dos ovários e do apêndice.
A alegria, no entanto, durou pouco. Um ano depois, em agosto de 2024, exames de rotina mostraram que a doença havia retornado em quatro pontos diferentes: dois linfonodos, uma metástase no peritônio e um nódulo no ureter. “É mais comum do que a gente imagina, mas é sempre um grande susto”, afirmou ela ao anunciar a notícia.
Com a quimioterapia já sem efeito no Brasil, a busca por uma alternativa se tornou urgente. “Aqui no Brasil já fizemos tudo o que podíamos. Minhas chances de cura estão fora, e é pra lá que eu vou”, declarou no programa Domingão com Huck. Em maio de 2025, ela embarcou para Nova York, onde sua amiga íntima, a atriz Carolina Dieckmann, esteve presente para acompanhá-la nos momentos finais.
Um legado para além da música
Preta Gil deixa uma marca que transcende seus 22 anos de carreira, seis álbuns e sucessos como “Sinais de Fogo”. Ela se tornou uma figura central na luta contra o racismo e a gordofobia, e uma defensora incansável dos direitos das mulheres e da população LGBTQIA+.
O Bloco da Preta, que nasceu em 2010, virou um fenômeno do carnaval carioca, arrastando multidões e se consolidando como um espaço de inclusão e respeito à diversidade. Como empresária, foi sócia da agência Mynd, uma potência no marketing de influência.
Ao longo de sua luta contra o câncer, Preta escolheu a transparência. Ela compartilhou cada etapa, desde o uso da bolsa de ileostomia até os dias mais difíceis, sempre com uma mensagem de força. “Sim, eu uso bolsa de ileostomia e não tenho vergonha de mostrar, pois essa bolsinha salvou minha vida”, disse, transformando sua dor em conscientização.
Preta Gil deixa o filho, Francisco Gil, de 30 anos, e a neta, Sol de Maria, de 9. A família, incluindo seu pai, Gilberto Gil, que precisou de acompanhamento médico após a notícia, está profundamente abalada.
O Brasil perde não apenas uma artista, mas uma mulher que ensinou sobre coragem, amor e a importância de viver intensamente. Seu legado permanecerá vivo na música, no carnaval e nos corações de todos que aprenderam com ela a festejar a vida sem medo de ser quem se é.