Você já imaginou perder mais de meio milhão de reais em busca do “prêmio fácil” prometido por seus influenciadores favoritos? Pois foi justamente isso que aconteceu com um apostador goiano que, sentindo‐se enganado por posts reluzentes de Virginia Fonseca, Deolane Bezerra e Carlinhos Maia, resolveu levar a briga para o tribunal. Agora, os três — entre os criadores de conteúdo mais populares do país — respondem a uma ação que cobra responsabilidade civil por um rombo de R$ 560 mil em apostas online.
Quando o feed vira armadilha
O processo, protocolado em 9 de julho de 2025, escancara um dilema moderno: até onde vai a culpa de quem “só” divulga? Segundo a petição de mais de 300 páginas, as publicações dos influenciadores vendiam a ideia de ganhos constantes, quase garantidos, sem uma linha sequer sobre os riscos. O autor, que preferiu o anonimato, descreve um ano de perdas em cascata — e acusa o trio de agir como verdadeiros sócios das casas de apostas.
Bancos na berlinda
Não parou por aí: o apostador também aponta o dedo para as instituições financeiras que processaram suas transferências. Para ele, os bancos falharam ao não perceber movimentações atípicas e, com isso, teriam “alimentado” o vício. A estratégia do advogado é clara: criar uma teia de responsabilidade que vá dos criadores de conteúdo aos intermediários do dinheiro.
Três pedidos que assustam
- Danos morais de R$ 20 mil pelo abalo emocional.
- Devolução integral dos R$ 560 mil, a ser bancada pelos bancos envolvidos.
- Retirada imediata de todos os posts que promovem apostas, pra evitar que outros caiam no mesmo conto.
A CPI das Bets (e o relatório que morreu na praia)
Esse processo individual surge na esteira da CPI das Bets, instalada em 2024, que revelou um mercado bilionário (entre R$ 89 bi e R$ 129 bi no ano passado) e apontou o dedo para influenciadores. O relatório final pedia o indiciamento de 16 pessoas — inclusive Virginia e Deolane — mas acabou rejeitado por 4 votos a 3 em junho deste ano, num raro revés para CPIs no Senado.
Números que dão frio na espinha
Estudos da Unifesp mostram que 10,9 milhões de brasileiros apostam de forma perigosa e 1,4 milhão já desenvolveu transtorno de jogo. Os jovens e a população de baixa renda são os mais vulneráveis: nas “bets”, o risco de vício bate 67% (contra 27% em outras modalidades). E o comércio sente no bolso: a CNC calcula que o varejo perdeu R$ 109 bi em 2024 porque esse dinheiro foi parar nas plataformas de aposta.
Quem são os réus?
- Virginia Fonseca — Quase 51 milhões de seguidores e contratos turbinados por cláusulas de bônus se os lucros das casas disparassem.
- Deolane Bezerra — Influenciadora e advogada que chegou a ser presa na Operação Integration, suspeita de lavar dinheiro via apostas.
- Carlinhos Maia — Mais de 30 milhões de seguidores, lifestyle de luxo e suspeita de ganhar porcentagem sobre perdas de apostadores.
O que pode mudar?
Se a Justiça de Goiânia der razão ao apostador, abre‐se a porta para uma enxurrada de processos semelhantes e contratos publicitários bem mais duros — com cláusulas explícitas sobre riscos e responsabilidade. Isso sem falar no PL 2.985/2023, aprovado no Senado em maio, que proíbe influenciadores, atletas e artistas de estrelarem anúncios de casas de apostas (o texto ainda tramita na Câmara).
E agora?
O caso será acompanhado de lupa por juristas, reguladores, criadores de conteúdo e, claro, milhões de seguidores. Afinal, num mundo onde um story de 15 segundos pode levar alguém á falência, talvez esteja na hora de redefinir as “regras do jogo” online — literalmente.