Você já parou para pensar como a vida às vezes redefine nossas prioridades com um simples sopro de vento? Pois foi exatamente isso que aconteceu com Gilberto Gil, agora aos 83 anos. O artista, ícone vivo da música brasileira, tomou a difícil decisão de adiar o show da turnê “Tempo Rei” em Belém, marcado para 9 de agosto no Mangueirão. O motivo? A dor profunda de um pai que perdeu sua filha querida, Preta Gil, aos 50 anos, no último domingo (20), vítima de complicações do câncer colorretal.
Mais que um artista, um pai em luto
Por trás das luzes do palco e dos acordes inesquecíveis, existe um homem de sentimentos profundos. Mesmo celebrando 60 anos de carreira, Gil escolheu pausar a turnê para viver seu luto. O comunicado da produtora 30e, divulgado nesta segunda-feira (28), foi simples e sincero:
“O show da turnê TEMPO REI, de Gilberto Gil, que estava marcado para o dia 9 de agosto (sábado), no Estádio Olímpico do Pará, o Mangueirão, em Belém, precisou ser adiado devido à recente perda da querida Preta Gil, filha do artista.”
A última grande celebração
“Tempo Rei” não é apenas uma sequência de apresentações — é a despedida oficial de Gil dos grandes palcos. Iniciada em 15 de março, na Arena Fonte Nova, em Salvador, a turnê já passou por várias capitais, sempre com ingressos esgotados e muita emoção no ar. Em entrevistas, o próprio Gil explicou:
“Ponderei muito antes de encarar essa última turnê. Pensei no mercado, na exigência física… mas, acima de tudo, quis dar um adeus à altura.”
Um título carregado de significado
O nome da turnê é uma homenagem e uma resposta. Em 1984, Gil compôs “Tempo Rei” como contraponto a “Oração ao Tempo”, de seu grande amigo Caetano Veloso. Enquanto Caetano celebra a passagem efêmera dos dias, Gil fala de permanência e transformação — uma ironia profunda diante da recente despedida de Preta.
A luta corajosa de Preta Gil
Desde o diagnóstico, em janeiro de 2023, Preta Gil enfrentou o câncer colorretal com uma coragem que parecia herdar a força do pai. Ela foi aberta com seus fãs, dividiu cada etapa do tratamento — quimioterapia, radioterapia, cirurgias — e, quando o câncer voltou em agosto de 2024, com metástases em quatro locais diferentes, buscou terapias experimentais nos Estados Unidos. Até o fim, manteve o otimismo e o bom humor que sempre foram sua marca.
Um vínculo que inspirou o Brasil
O relacionamento entre pai e filha era de cumplicidade rara. Um dos momentos mais emocionantes da turnê aconteceu em São Paulo, quando Preta subiu ao palco para cantar “Drão”, música que Gil dedicou à mãe dela, Sandra Gadelha. Quem estava na plateia nunca esqueceu o olhar emocionado de Gil, assistindo à filha seguir seus passos, mesmo em meio à própria batalha.
Planos por um fio
Enquanto os fãs em Belém aguardam uma nova data, as equipes de Gil e da 30e trabalham para reagendar o show. As outras paradas de “Tempo Rei” permanecem confirmadas:
- Porto Alegre (6 de setembro)
- São Paulo (17 e 18 de outubro)
- Rio de Janeiro (25 e 26 de outubro)
- Fortaleza (15 de novembro)
- Recife (22 e 23 de novembro)
Até então, o último concerto havia sido em Curitiba, no início de julho, com Gil em plena forma e um repertório repleto de clássicos.
O adeus a Preta Gil
Na sexta-feira (25), o Theatro Municipal do Rio de Janeiro se abriu para a despedida de Preta. Centenas de fãs vieram prestar homenagem antes da cerimônia íntima de cremação, reservada à família. Gilberto Gil esteve ao lado de Sandra Gadelha, da esposa Flora Gil e da filha Bela Gil, vivendo um dos momentos mais dolorosos de sua longa vida.
O que fica no fim das contas?
Gilberto Gil nos lembra que, mesmo sendo lenda viva, há algo maior que a música: o amor de pai. Adiar um show de despedida não é só uma questão de agenda, mas de humanidade. No fim, “Tempo Rei” nos ensina que o tempo mais precioso é aquele dedicado a quem amamos — e, às vezes, a melhor escolha é simplesmente parar.