A Escola de Samba Filhos da Feira de São Joaquim nasceu em 2006 com a proposta de reviver práticas e laços da Feira de São Joaquim, em Salvador. Era um lugar cheio de comércio, rodas de samba e identidade comunitária — e a escola se tornou uma forma organizada de manter tudo isso vivo.
Origens e formação
O surgimento da agremiação foi conduzido pelo compositor Alaor Macêdo, que articulou a retomada de antigas escolas de samba da cidade. O projeto reuniu nomes e veteranos de agremiações como Filhos do Garcia, Juventude do Garcia, Diplomatas de Amaralina e Ritmistas do Samba. Segundo a presidente Avani de Almeida, a ideia foi organizar os feirantes para transformar essa identidade em escola de samba.
Antes da estreia oficial houve trabalho administrativo e levantamento de participantes. Um colaborador identificado como Liberato ajudou na organização do cadastro dos feirantes. Foi lançado o CD Abre Alas do Samba, cujo primeiro samba-enredo, assinado por Guiga de Ogum, passou a ser o hino da escola.
Religiosidade e comunidade
Desde o início, a ligação com a religiosidade local foi central. A escola passou a ser cuidada por Dona Inês, responsável por um terreiro no Largo do Tanque, que também promovia festas religiosas como a do Marujo. Esse elo entre trabalho cultural e práticas religiosas ajudou a consolidar a presença da agremiação na comunidade.
Carnaval: adaptação e desafios
No desfile, a Filhos da Feira teve que se adaptar. O Campo Grande ficou inviável por causa do esquema de cordas e da proximidade do público com as fantasias, o que atrapalhava a fluidez. A escola passou a priorizar o Circuito Batatinha, no Pelourinho, e também se apresentar no Fuzuê, do circuito Orlando Tapajós (Ondina/Barra), buscando vias com passagem mais ampla e soluções de sonorização, como nano trio ou prancha sonorizada.
Além disso, a predominância dos trios elétricos no Carnaval de Salvador reduziu a visibilidade e o apoio às agremiações tradicionais. A Filhos da Feira já chegou a reunir mais de 100 integrantes e hoje conta com mais de 50 profissionais envolvidos nas atividades.
Como manter a escola viva diante dessas mudanças? A resposta passou por articulação coletiva, adaptação logística e busca de formas de sonorização e circulação adequadas.
Ações sociais e culturais
Para além da festa, a escola desenvolve trabalho social junto à feira: agendamento de consultas e exames, emissão de declarações de endereço e apoio logístico às atividades do dia a dia. A remuneração de músicos costuma ser tratada como ajuda de custo; a prioridade declarada pela direção é o impacto social e a formação cultural na comunidade.
- Atendimentos e encaminhamentos de saúde
- Emissão de cartas para comprovar endereço
- Apoio logístico em atividades cotidianas
Diálogo institucional e futuro
Diante das dificuldades, a Filhos da Feira organizou-se com blocos afro e outras entidades culturais para dialogar com o governo do estado. Esse movimento incluiu manifestações e a criação de uma entidade representativa para interlocução institucional, considerada pela direção um avanço.
No debate sobre a criação de um sambódromo, a escola condicionou apoio à inclusão de blocos afro, afoxés e escolas de samba, e à oferta de infraestrutura permanente para confecção de fantasias, armazenamento de materiais e ensaios — itens essenciais para quem trabalha durante todo o ano.
Ao fim, a direção lembra que a escola é, antes de tudo, comunidade. Para Avani de Almeida, esse vínculo é a força que mantém a agremiação: a Filhos da Feira segue atuando como espaço de formação, memória e oportunidade para artistas locais.