Em 2018, o jovem Matheus Couto fundou a G.R.E.S. Diamante Negro no bairro do Novo Marotinho, em Salvador (BA). A faísca veio depois de assistir ao desfile da Acadêmicos do Grande Rio na Marquês de Sapucaí, em 2017, com o enredo “Ivete, do Rio ao Rio”, que ficou em 5º lugar.
O interesse já vinha de antes: aos 12 anos, emocionado com a homenagem a Ivete Sangalo, Matheus reproduziu uma escola de samba em maquete. A brincadeira acabou virando projeto comunitário.
Do modelo à rua
Depois daquele Carnaval no Rio, ele mergulhou no assunto. Pesquisou a história das escolas de samba, viu documentários, leu e ouviu muito samba-enredo. Sem encontrar em Salvador — hoje — um espaço vivo para esse formato de escola, recorreu a uma liga de modelos em miniatura para reproduzir desfiles em escala reduzida e aprendeu as regras de concurso: harmonia, enredo, fantasias, mestre-sala e porta-bandeira.
“Depois daquele momento, minha vida passou a ser escola de samba 24 horas por dia (ou 24/7). Eu assistia documentários, lia livros, ouvia samba-enredo.”
O passo seguinte saiu das miniaturas. Com o apoio do avô, que cedeu uma casa na comunidade, e com a escola Filhos da Feira como referência e ‘madrinha’, a Diamante Negro deixou de ser só brincadeira e ganhou as ruas. As primeiras ações reuniram crianças e jovens em baterias improvisadas e, já no primeiro ano, um carro alegórico circulou pelo bairro — resultado do trabalho local.
Desafios e organização
A trajetória não foi sem dificuldades. Faltou documentação formal, houve escassez de apoio institucional e foi difícil atrair adultos para participar. Para enfrentar isso, a diretoria fez campanhas no bairro e, hoje, a escola reúne cerca de 60 pessoas nas atividades e desfiles locais.
“Quando eu penso na Diamante Negro, eu penso nisso, nessa parte da diversão, da beleza da festa, de fazer as fantasias, arrumar a bateria e ir para a rua. Eu não quero que a escola de samba pareça com os blocos afro, que já existem e são gigantes; quero que a escola de samba tenha a cara das grandes escolas.”
Sambódromo: oportunidade com condicionantes
Matheus vê a proposta de construir um sambódromo em Salvador como algo promissor. Mas será que só ter um espaço resolve? Para ele, não basta uma arena sem políticas de incentivo e logística: é preciso apoio para ensaios, transporte e visibilidade das apresentações. Sem isso, o ganho prático das escolas locais fica limitado.
“Não dá para ser um ou outro. A gente ser inserido no Carnaval de Salvador é importante, mas se for implantar um sambódromo, é necessário ter o auxílio para que a gente consiga fazer o desfile. Não adianta colocar o espaço, mas não colocar um ônibus para levar as escolas para lá.”
Depois de mais de seis anos de trabalho desde a fundação, a Diamante Negro segue com a proposta de resgatar e adaptar a tradição das escolas de samba ao contexto do carnaval soteropolitano. As atividades continuam voltadas à comunidade do Novo Marotinho, e há a expectativa de que iniciativas como o sambódromo possam ampliar a visibilidade — desde que venham acompanhadas de investimento e planejamento.

