Nem sempre o visual fofo significa história leve. Em dez animações, produzidas entre 1978 e 2022, a aparência meiga serviu como disfarce para tramas que lidam com guerra, luto, fome, preconceito e violência.
Esses filmes usam cores suaves e personagens cativantes para falar de coisas duras — como um doce temperado com pimenta. À primeira vista é fácil sorrir; depois você percebe que há camadas mais escuras por trás da superfície.
Filmes em destaque
Em Busca do Vale Encantado (1988), dirigido por Don Bluth, segue um brontossauro órfão e seus amigos na tentativa de reencontro com as famílias. A história aborda fome, escassez, preconceito e luto de forma direta, sem poupar o espectador.
Pinóquio (2022), na versão de Guillermo del Toro, transporta a narrativa para momentos cercados pelas duas guerras mundiais, mostra a culpa de Gepeto após a perda do filho e traz episódios de morte e ressuscitação do protagonista.
A Casa Monstro (2006), produzida por Robert Zemeckis e Steven Spielberg, tem tom de terror infantil: a ideia de uma casa viva serve para discutir bullying, preconceito, perda e raiva.
O Cão e a Raposa (1981) rompeu com o final feliz fácil ao mostrar como influências externas afastam dois amigos de infância, deixando uma sensação de perda irreversível da inocência.
A Fuga das Galinhas (2000), primeiro longa da equipe de Wallace & Gromit dirigido por Peter Lord e Nick Park, mistura humor e imagens que remetem a campos de extermínio, ao expor a sistematização do abate das galinhas para lucro.
A Longa Jornada (1978), adaptação de Martin Rosen do livro de Richard Adams, narra a travessia de coelhos em busca de um novo lar e inclui cenas de zona de guerra, um cemitério de ratos e referências a canibalismo — elementos que levaram à classificação restritiva para menores.
O Gigante de Ferro (1999), de Brad Bird, se passa na década de 1950 e explora medo, preconceito e a tentativa de proteger o diferente em plena Guerra Fria.
Túmulo dos Vagalumes (1988), do Studio Ghibli, baseado na experiência de Akiyuki Nosaka, mostra o sofrimento de irmãos após ataques aéreos na Segunda Guerra Mundial de forma profundamente comovente.
Persépolis (2007), dirigida por Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi a partir da graphic novel homônima, conta a história semiautobiográfica de Marji desde a Revolução Iraniana de 1978, retratando conflitos com um regime fundamentalista e as dificuldades de adaptação no exterior.
Princesa Mononoke (1997), também do Studio Ghibli, coloca em cena o embate entre espíritos da floresta e uma colônia mineradora, abordando desmatamento, modernização e violência humana.
Alguns desses títulos apareceram em listas e análises críticas — por exemplo, Em Busca do Vale Encantado foi citado no IMDB como obra que deveria ser vista — e todos voltam como referência quando se discute a capacidade da animação de tratar temas adultos, apesar da estética ingestiva. Quem diria que desenhos tão fofos teriam tanto a dizer?