Enoch Davis, mais conhecido nas redes como Americano Baiano e com público superior a 50 mil seguidores, virou assunto por um motivo curioso: o sotaque soteropolitano que passou a carregar ao falar português.
A missão que mudou o jeito de falar
Tudo começou quando ele aprendeu português em 2012, durante uma missão religiosa em Salvador, na Bahia. Com 19 anos, Enoch foi enviado pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e morou em bairros como Pernambués e na região de São Caetano/Capelinha/Fazenda Grande do Retiro. Antes disso, ele dizia não ter muita referência sobre a cidade.
Para se enturmar, fez uma meta pessoal: queria se “camuflar” dentro da cultura local. Usou uma técnica de imitação de pronúncia — conhecida como chattlering — que basicamente consiste em ouvir e repetir até soar natural. O objetivo? Passar despercebido no cotidiano da cidade.
“Eu não sabia era nada. Eu era igual a qualquer outro gringo. Eu sabia da existência do Rio de Janeiro, eu sabia da existência da Amazônia e de São Paulo e acabou. E Belo Horizonte, por causa do meu irmão [que também visitou o país em missão]”, disse Enoch.
“Eu fiz uma meta comigo mesmo de que eu queria me camuflar por dentro da cultura, dentro da cidade. Em qualquer canto que eu fosse, eu queria que ninguém me notasse”, relatou Enoch.
O que ficou depois da volta
De volta aos Estados Unidos, onde passou a morar em Utah, nos Estados Unidos, Enoch manteve traços do sotaque baiano. Ele começou a compartilhar dicas de inglês para brasileiros, mas não se limitou a isso: continuou a acompanhar produtores baianos e a divulgar conteúdo da cena local.
Quem diria que uma missão pudesse criar esse laço tão forte com uma cidade? Ele conta que se sentiu acolhido de um jeito especial pelos soteropolitanos — a convivência, o humor e até a forma de brincar dos moradores fizeram com que se sentisse “em casa”, apesar de ser californiano e orgulhoso de ser americano.
“O povo gosta de brincar do jeito que eu brinco. O povo é sarcástico, pega pesado, eu também sou assim… Eu me senti imediatamente em casa e foi o lugar que eu mais me senti assim. Eu sou muito orgulhoso de ser californiano, eu tenho orgulho de ser americano, estadunidense, mas [Salvador] foi o lugar que eu mais me senti acolhido na minha vida”, disse o influenciador.
Música, sotaque e família
Além do sotaque, Enoch absorveu gostos musicais locais. Ele diz preferir ritmos como pagodão, swingueira e arrocha, e enumera artistas que ouviu com frequência durante e depois da estadia em Salvador — com destaque para Harmonia do Samba, Léo Santana e Parangolé na época de Tony Salles. Também mencionou nomes como Pablo e Silvanno Salles.
Curiosamente, a influência foi além: os dois filhos dele também passaram a incorporar o sotaque baiano, segundo Enoch, que segue consumindo e promovendo conteúdo de criadores locais como Eric Sena, Cristian Bell e Will Baiano.
Em resumo: uma missão de trabalho virou experiência cultural profunda. Ele aprendeu o idioma, adotou traços do falar baiano e manteve essa conexão mesmo depois de voltar para os Estados Unidos — um exemplo claro de como convivência e música podem marcar alguém para sempre.