Um estudo da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS), publicado em 2025 na revista Physical Review Research, mostrou que é viável enviar sinais quânticos da Terra para um satélite — o chamado uplink. Essa alternativa reverte a lógica predominante das comunicações quânticas por satélite e abre possibilidades para redes intercontinentais.
O que testaram
Até então, iniciativas como o satélite chinês Micius (lançado em 2016) e experimentos mais recentes, como o microssatélite Jinan‑1 (2025), privilegiavam o envio de pares entrelaçados do espaço para o solo — o downlink. A equipe da UTS, liderada por Simon Devitt e Alexander Solntsev, inverteu a rota: em vez de mandar fótons do espaço para a Terra, testaram enviar fótons da Terra para o satélite.
Como funcionaria
A ideia é simples na descrição e desafiadora na prática: disparar, a partir de duas estações terrestres, partículas individuais de luz em direção a um satélite em órbita a cerca de 500 quilômetros, viajando a aproximadamente 20 mil quilômetros por hora, de modo que os fótons cheguem com precisão para sofrer interferência quântica. Isso seria possível — e os pesquisadores responderam com simulações detalhadas.
Nos modelos eles levaram em conta ruído de luz ambiente, reflexos lunares, efeitos atmosféricos e desalinhamento dos sistemas ópticos. O próprio Alexander Solntsev disse que a ideia do uplink não era levada a sério — por isso precisou ser testada com cuidado.
O professor Simon Devitt colocou o problema de forma direta: disparar dois fótons de estações separadas para que se encontrem em órbita e causem interferência quântica. Surpreendentemente, as simulações mostraram que o uplink é viável, especialmente quando os modelos incluem efeitos do mundo real.
Rumo a experimentos reais
Como dar o próximo passo na prática? Os autores sugerem uma rota escalonada: começar com testes em plataformas aéreas e receptores elevados antes de ir para pequenos satélites em baixa órbita. Opções citadas incluem:
- ensaios com drones;
- receptores acoplados a balões;
- parcerias para satélites compactos que só precisem de uma unidade óptica para interferir e reportar os resultados.
O ponto forte do uplink é reduzir a complexidade a bordo do satélite. Em vez de hardware quântico volumoso para gerar grandes taxas de fótons, bastaria uma unidade óptica compacta para interferir os fótons recebidos e relatar o resultado — o que reduz custo e tamanho e torna a abordagem mais prática, segundo Devitt.
Implicações para o Brasil
Para o Brasil, a demonstração técnica abre oportunidades em pesquisa, formação e inovação em comunicações quânticas. Universidades, centros de pesquisa e empresas podem se envolver em testes, capacitação em fotônica e no desenho de protocolos de redes quânticas. No plano regional, a Bahia pode aproveitar iniciativas de capacitação, parcerias acadêmicas e o estímulo a startups especializadas em componentes ópticos e sistemas de telecomunicações quânticas.
O trabalho envolveu especialistas das faculdades de Engenharia e Tecnologia da Informação e de Ciências da UTS, reforçando a necessidade de colaboração interdisciplinar para enfrentar desafios em larga escala. Os autores indicam que testes práticos com plataformas aéreas e receptores elevados podem ocorrer em curto prazo, marcando os próximos passos para a implementação de redes quânticas via satélite.

