Um estudo recente publicado na revista Communications Biology reexaminou o tornozelo de um antigo hominídeo e trouxe resultados que ajudam a desenhar melhor nossa história. O fóssil, conhecido como Ardipithecus ramidus — apelidado de Ardi — viveu há cerca de 4,4 milhões de anos na Etiópia.
O que o tornozelo revela
Os pesquisadores analisaram o osso do tornozelo, o tálus, e o compararam com ossos equivalentes de dezenas de primatas, cobrindo cerca de 40 milhões de anos de história evolutiva. Usaram modelos tridimensionais para ver detalhes que não aparecem numa observação rápida.
O resultado foi uma imagem mista: o tálus de Ardi tem semelhanças marcantes com o de macacos africanos atuais, como chimpanzés e gorilas — o que indica habilidade eficiente para escalar e para apoiar o pé no solo de modo semelhante à locomoção quadrúpede desses animais. Ao mesmo tempo, havia indícios claros de um avanço rumo ao bipedalismo, isto é, características que facilitam andar sobre duas pernas.
Em termos práticos, o pé de Ardi parece ter feito um “duplo trabalho”: servia tanto para agarrar galhos quanto para sustentar deslocamentos no chão — uma solução intermediária entre subir em árvores e andar ereto.
“andava ereto, mas mantinha um pé adaptado para agarrar galhos”, disse o antropólogo Thomas “Cody” Prang, autor principal do estudo.
O fóssil foi encontrado em 1994 e vem sendo estudado por mais de 30 anos, em meio a debates intensos. Pesquisas anteriores apresentavam Ardi como bastante distinto dos macacos africanos; a nova análise sugere que nossos ancestrais eram mais parecidos com chimpanzés do que se pensava — sem, porém, afirmar que humanos descendem diretamente desses macacos. O trabalho reforça a ideia de um ancestral comum mais próximo entre as linhagens.
Por que importa
Os autores divulgaram os dados como parte de uma comparação ampliada entre tálus de primatas, incluindo análises em 3D. Esses conjuntos de dados devem orientar novas investigações sobre a transição entre um modo de vida mais arbóreo e outro mais terrestre na evolução humana — ou seja, ajudam a responder: como e quando o pé deixou de ser uma ferramenta de escalada e virou peça-chave do caminhar ereto?
- Espécie: Ardipithecus ramidus (Ardi)
- Idade: ~4,4 milhões de anos
- Local: Etiópia
- Osso estudado: tálus (tornozelo)
Em suma, o estudo não fecha o caso, mas oferece peças importantes: um pé que conta uma história de transição — nem totalmente macaco, nem ainda humano como nós — e que seguirá guiando pesquisas sobre como nossos antepassados se moviam entre galhos e chão.